Dos Sermões de São Máximo de
Turim, bispo
Ainda que eu me calasse, irmãos, lembra-nos o tempo que o Natal
do Cristo Senhor se aproxima, pois a brevidade dos dias se adianta à minha
pregação. Justamente por suas aflições, o mundo manifesta que se aproxima algo
que o tornará melhor, e deseja ardentemente que o resplendor de um sol mais
luminoso ilumine suas trevas.
Receando que o seu curso se encerre com a brevidade das horas,
espera, de certo modo, que o ano se renove. Essa expectativa da criação também
nos leva a esperar que o Cristo, novo sol, ilumine com seu nascimento as trevas
dos nossos pecados. E que, como sol de justiça, pelo poder do seu Natal, ponha
fim à longa noite dos nossos delitos, não permitindo que o curso de nossa vida
termine com uma brevidade funesta, mas se prolongue ao contrário pela força de
sua graça.
Conhecendo, pois, o Natal do Senhor, que até o mundo nos indica,
façamos também nós o que ele costuma fazer: assim como nesse dia ele prolonga
sua luz, aumentemos também nossa santidade! Assim como a luz desse dia é comum
aos pobres e ricos, também a nossa liberalidade seja comum aos peregrinos e
indigentes! e assim como o mundo começa então a repelir a escuridão de suas
noites, extirpemos também nós as trevas da nossa avareza!
Irmãos, ornemo-nos de vestes puras e brilhantes para celebrar o
Natal do Senhor! Refiro-me às vestes da alma, e não às do corpo. Cuidemos não
das vestimentas de seda, mas das boas obras! As vestes limpas podem cobrir o
corpo, mas não ornar a consciência, e nada há de mais vergonhoso do que
caminhar com vestes limpas, mas com sentimentos impuros. Purifiquemos primeiro
os nossos afetos, antes de enfeitarmos a nossa aparência. Lavemos nossas
manchas espirituais, para que refuljam em nós as vestes do corpo. Pois de nada
valem nossas vestes refulgentes, se tivermos a alma manchada pelo pecado.
Quando a consciência está nas trevas, todo o corpo é obscuro. Temos com o que
purificar nossa consciência de suas manchas, pois está escrito: Dai esmola e
tudo ficará puro para vós (Lc 11,41). Bom é o preceito da esmola, pelo qual
purificamos o coração trabalhando com as mãos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário