quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

GUARDOU AS ARMAS E FOI ALMOÇAR

Por Sofia Lerche Vieira (*)

Os crimes contra vítimas inocentes em escolas brasileiras têm crescido assustadoramente, de modo particular no corrente ano. Refletem o aumento sem precedentes da violência na sociedade brasileira, agravado por fatores que têm contribuído para a banalização da vida, incluindo a liberação e uso indiscriminado de armas no governo Bolsonaro.

A onda de assassinatos em escolas tem sua origem em abril de 2011, em um evento que se tornou conhecido como o Massacre de Realengo, no Rio de Janeiro, quando foram mortos doze alunos de idade entre 13 e 15 anos e mais vinte e dois feridos. O assassino cometeu suicídio antes de ser capturado. Em março de 2019, uma dupla de ex-alunos, matou oito pessoas e feriu onze outras, na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano no interior de São Paulo. Um dos assassinos matou o outro e, depois, teria se suicidado.

Em 2022 já foram três os ataques mortíferos contra escolas brasileiras. O primeiro deles vitimou uma aluna cadeirante, em Barreiras, na Bahia; o segundo, matou um aluno do ensino médio, em Sobral, Ceará; e, o último, cometido em 25 de novembro, já fez quatro vítimas em Aracruz, Espírito Santo.

Em todos os casos, circularam informações de que os assassinos haviam sofrido algum tipo de bullying. Certo é que as motivações desses crimes cometidos por jovens desajustados e psiquicamente doentes precisam ser melhor investigadas e compreendidas num contexto mais amplo.

No caso mais recente, tão chocante quanto os assassinatos, foram outras manifestações do jovem que cometeu o crime de ódio. Duplamente armado, agiu com precisão, ostentando símbolos nazistas em suas vestes. A manchete de jornal (Folha de São Paulo, 29 nov 2022) fala por si: "Atirador no ES foi para casa, guardou armas e foi almoçar com os pais após ataque". Inacreditável!

É inaceitável que nossas crianças e jovens estejam a mercê de tais barbaridades. Reverter esse quadro é um desafio coletivo para os órgãos educacionais e outras instâncias de governo, assim como para todas as forças vivas da sociedade. Não podemos compactuar com tal situação. Não às armas. Sim à vida. 

(*) Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 5/12/22. Opinião, p.20.

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