O Ceará,
através da sociedade civil e também pelo engajamento mais firme de suas forças
políticas, precisa se envolver de maneira mais efetiva na luta que tem sido
desprendida nos últimos anos por segmentos isolados em defesa do
restabelecimento de uma homenagem que não faz sentido que se tenha decidido, na
prática, cancelar. No caso, a exclusão do nome de Pinto Martins da fachada do
aeroporto internacional de Fortaleza, decisão tomada pela Fraport, empresa
alemã que assumiu, como concessionária, o controle de administração do terminal
desde 2018 e que até hoje não apresentou uma justificativa aceitável para a
atitude.
Consideremos,
de início, que não se trata de uma homenagem qualquer. Euclydes Pinto Martins,
filho de Camocim, no litoral norte do Ceará, sempre foi um apaixonado pela
causa aeronáutica. Mais do que isso, protagonizou pioneiro voo sobre o oceano
Atlântico, entre Nova York e o Rio de Janeiro, no distante ano de 1922, num percurso
de 5.678 km marcado por extraordinárias 100 horas de uma viagem plena de
aventuras e intempéries, incluindo-se pousos em rios localizados em áreas
selvagens da Amazônia e uma sentimental parada em sua Camocim natal. Típico
caso, voltando ao tema da nominação do aeroporto, de um tributo que faz sentido
considerados todos os aspectos pelos quais seja analisado.
Sem dúvida,
o tema deveria mobilizar mais a classe política, por exemplo. Vê-se, ao
contrário, manifestações isoladas, mesmo que frequentes, de parlamentares como
os deputados Acrísio Sena (PT) e Sérgio Aguiar (PDT), este último conterrâneo
de Pinto Martins, cobrando a concessionária e exigindo que ela devolva a
homenagem, inclusive considerando-se os aspectos legais envolvidos. O nome do
aeroporto é resultado de uma lei aprovada pelo Congresso Nacional que foi
sancionada em 1952 pelo então presidente da República, Café Filho, portanto, é
mais apenas do que uma mera questão política que está em discussão.
O próprio
governo do Ceará deveria estar mais empenhado, aliando-se aos deputados já
abraçados à causa e colocando sua força política à disposição de uma luta que
precisa ser de todos. Talvez seja o caso de também cobrarmos mais mobilização
das nossas entidades classistas empresariais ou do movimento social, sempre
ativas em relação às agendas de seus interesses diretos, no sentido de fazê-las
mais conscientes da importância do envolvimento do conjunto diverso da
sociedade com uma pauta que busca, simplesmente, exigir respeito à memória e à
história do nosso Estado.
A
concessionária do aeroporto, com tudo de importante que tenha representado com
sua chegada em termos de práticas administrativas novas e que têm mesmo
melhorado a parte estrutural, precisa ser levada a entender que o resgate do
nome de Pinto Martins é um assunto de interesse do Ceará. Por enquanto, diante
da timidez com a qual temos agido e pelo fato de serem isoladas as vozes que
gritam contra o que foi feito, talvez não esteja sendo dimensionado o tamanho
real da injustiça representada pela medida. Nosso grito precisa ser mais alto e
exige mais vozes para que, enfim, se faça ouvir.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 22/01/23. Editorial, p.18.
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