Por Carlos Roberto Martins
Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)
Cederam-me a
oportunidade de escrever. Mesmo não sendo afeito às exposições, exceto quando
me oportuno em questões cruciais. E por isso, hesitei muito. No entanto, há
alguns anos, preocupo-me com a apatia das ideias e com a abstenção em
que vivemos.
Assim como
todos vocês, sinto-me obrigado a acreditar em algo diferente, pois o substrato
dessa crença que por ora está presente é o medo e o descontentamento. E, talvez, isso explique, ao menos em parte, os excessos mundanos,
quando nos confortam transitoriamente.
A percepção de
toda tragédia dos últimos anos, das notícias negativas que logo se vão ao esquecimento, como uma negação necessária à
dureza dos fatos. O achar que "vai dar certo" foi sob uma ótica uma
atitude otimista diante de intransponíveis perdas, embora infantil. Mas, fazia
alusão que rapidamente tudo passaria e voltaria ao "normal".
Há pouco tempo
falávamos desse novo normal, de uma mudança objetiva na competência da gestão pública, e que, enfim, aceitaríamos cortar na própria carne para desfazermos o
palco de absurdos.
Porém, de forma
inversa, saímos ainda mais frenéticos, e escondemos, sim, os mortos e nos
determinamos a buscar os culpados.
Nesse espaço,
que me foi concedido, por mérito da comunicação e sua intensa capacidade de dar
crédito às idéias livres e dispostas ao exercício da criatividade , e quiçá, em alguns instantes, do contraditório. Gozam, por si,
dos princípios da boa fé. Espero fazê-lo como na minha vida médica, com
entusiasmo, desejo e crença no futuro. Pois, não fosse essa abstração, improvável
seria carrear esse sentimento a quem nos lê, e seríamos menores, e somente
pedaços numa vivência desnorteada.
Escrever é
lidar com o improvável e com as diversas sensações expostas; não deixa de ser
um ato de diversidade, de humildade e solidariedade.
Pois, a
diversidade garante uma linguagem eclética, a humildade nos faz a aproximação,
entre nós e com outrem, e comparecer com o exercício de reduzir as injustiças. São, portanto, as escritas da doação e da compreensão.
Esse texto é
somente o início de uma jornada de
reflexões sobre o
cotidiano, sempre mesclando o que você sente, ou mesmo pensa em voz alta, em
negrito ou discretamente, da desapercebida imagem. Vamos, espero eu, mas
principalmente vocês trazer para agora um momento incomum, sem retoques...
(*) Médico. Professor da UFC.
Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 28/01/2023. Opinião. p.19.
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