segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

O CAUSO DA BOMBA

Por Luiz Gonzaga Fonseca Mota (*)

Francisco, aluno do curso de contabilidade de uma universidade carioca, era um jovem estudioso, responsável, dedicado e sempre se destacava como o primeiro da turma. Suas notas variavam de 9 a 10. Por outro lado, professor José era um exemplo de mestre. Já com certa idade, porém cumpria rigorosamente com suas obrigações de mestre. Tinha o respeito e a admiração de todos os alunos. Suas aulas eram muito concorridas, pois vários alunos de outras turmas também participavam. Todavia, o professor José era muito rigoroso e não admitia perguntas tolas e fora do assunto que estava apresentando. Muitas vezes ficava zangado e respondia com rispidez. No entanto, vale ressaltar, seu profundo conhecimento de contabilidade e ainda sua didática positiva. Certa vez, o competente professor José dava uma aula sobre a estrutura de um balanço contábil. Aula fundamental no curso de contabilidade. Dizia ele: o balanço possui duas partes, ou seja, o ativo e o passivo. De forma resumida, pode-se dizer que na primeira parte estão três itens básicos: Disponível, Realizável e Imobilizado. Mostrou o que significava os mencionados itens, de forma bastante clara, bem como suas composições e como poderiam ocorrer alterações. Também de forma resumida explicou os dois itens do passivo, o Não Exigível e o Exigível. Logo em seguida, os alunos começaram a fazer perguntas e debater com o mestre modificações no balanço empresarial, déficit, superávit, endividamento, empréstimos, aumento de capital, financiamentos, etc. Tudo era explicado da melhor maneira possível pelo ilustre mestre. Querendo provocar a turma, o professor José perguntou: qual é melhor ser devedor ou credor? A resposta dos discípulos foi unânime: credor. Revidou o professor: e quando o devedor não paga? Os alunos ficaram atônitos. Francisco, o melhor aluno de todos, perguntou: qual a solução, professor José? O mestre respondeu que seria o cartório. Francisco disse: se não resolver? O professor ficou aborrecido e ressaltou: polícia, se não resolver, exército se não resolver, aeronáutica para jogar uma bomba na casa do devedor. A turma ficou muda, com sorriso reprimido e perplexa. Tal situação faz lembrar o grande Nelson Rodrigues em “A Vida Como Ela É...”

(*) Economista. Professor aposentado da UFC. Ex-governador do Ceará.

Fonte: Diário do Nordeste, 17/02/2022. Ideias.

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