terça-feira, 28 de março de 2023

HIV E O AUTOTESTE COMO FORMA DE PREVENÇÃO

Por Lisandra Damasceno (*)

A aids e as elevadas taxas de infecção por HIV em pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade ainda são uma realidade no mundo. Neste contexto, algumas estratégias têm sido desenvolvidas para melhorar o acesso aos testes e ao tratamento precoce. É o caso do projeto "A Hora É Agora", implantado em 2014 em Curitiba, no Paraná, e depois expandido para outras regiões do País.

A iniciativa chegou a Fortaleza, oferecendo autotestagem para HIV a gays, outros homens que fazem sexo com homens, trabalhadores do sexo, mulheres trans e travestis acima de 15 anos. Os usuários do serviço podem solicitar, por meio de uma plataforma on-line, um kit de testes de forma segura e anônima. Em caso de resultado positivo, é necessário buscar um profissional de saúde do projeto chamado "linkador", responsável por fornecer orientações e vincular o paciente à unidade básica de saúde para a realização do exame confirmatório, de consultas e do tratamento.

Estratégias como essas são importantes para mitigar as barreiras de acesso ao diagnóstico e ao tratamento, estimular a prevenção combinada e garantir a integralidade do cuidado - ações fundamentais para o enfrentamento à epidemia de HIV. Logo, é imprescindível que os profissionais de saúde envolvidos no projeto sejam devidamente qualificados e capazes de acolher os usuários com humanização. Esses parâmetros são essenciais para que as pessoas tenham direito ao sigilo e não sofram qualquer tipo de preconceito e de discriminação ao recorrer à testagem.

Apesar disso, parte da população pode não querer realizar o teste por medo do estigma, do preconceito ou, até mesmo, de morrer, já que, ainda hoje, há quem veja, erroneamente, o diagnóstico de HIV como uma sentença de morte. Cabe ressaltar que o controle adequado da infecção torna a carga viral indetectável, e o vírus passa a ser intransmissível por via sexual. Assim, não há espaço para o agravamento da infecção e para o surgimento de doenças oportunistas.

Portanto, precisamos, cada vez mais, divulgar informação de qualidade e reforçar os benefícios da testagem, do diagnóstico e do tratamento precoces. Essas ações, quando somadas a outras estratégias de saúde, serão decisivas para proporcionar qualidade de vida às pessoas que vivem com o HIV. 

(*) Médica infectologista. Presidente da Sociedade Cearense de Infectologia.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 30/01/2023. Opinião. p.19.

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