Por Lisandra Damasceno (*)
A aids e as
elevadas taxas de infecção por HIV em pessoas que vivem em situação de
vulnerabilidade ainda são uma realidade no mundo. Neste contexto, algumas
estratégias têm sido desenvolvidas para melhorar o acesso aos testes e ao tratamento precoce. É o caso do projeto "A Hora É Agora", implantado em 2014 em
Curitiba, no Paraná, e depois expandido para outras regiões do País.
A iniciativa
chegou a Fortaleza, oferecendo autotestagem para HIV a gays, outros homens que
fazem sexo com homens, trabalhadores do sexo, mulheres trans e travestis acima
de 15 anos. Os usuários do serviço podem solicitar, por meio de uma plataforma
on-line, um kit de testes de forma segura e anônima. Em caso de
resultado positivo, é necessário buscar um profissional de saúde do projeto
chamado "linkador", responsável por fornecer orientações e vincular o
paciente à unidade básica de saúde para a realização do exame confirmatório, de
consultas e do tratamento.
Estratégias
como essas são importantes para mitigar as barreiras de acesso ao diagnóstico e
ao tratamento, estimular a prevenção combinada e garantir a integralidade do
cuidado - ações fundamentais para o enfrentamento à epidemia de HIV. Logo, é imprescindível que os profissionais de saúde envolvidos no
projeto sejam devidamente qualificados e capazes de acolher os usuários com
humanização. Esses parâmetros são essenciais para que as pessoas tenham direito
ao sigilo e não sofram qualquer tipo de preconceito e de discriminação ao
recorrer à testagem.
Apesar disso,
parte da população pode não querer realizar o teste por medo do estigma, do
preconceito ou, até mesmo, de morrer, já que, ainda hoje, há quem veja,
erroneamente, o diagnóstico de HIV como uma sentença de morte. Cabe ressaltar
que o controle adequado da infecção torna a carga viral
indetectável, e o vírus passa a ser intransmissível por via sexual. Assim, não
há espaço para o agravamento da infecção e para o surgimento de doenças
oportunistas.
Portanto,
precisamos, cada vez mais, divulgar informação de qualidade e reforçar os
benefícios da testagem, do diagnóstico e do tratamento precoces. Essas ações,
quando somadas a outras estratégias de saúde, serão decisivas para
proporcionar qualidade de vida às pessoas que vivem com o HIV.
(*) Médica infectologista. Presidente da
Sociedade Cearense de Infectologia.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 30/01/2023. Opinião. p.19.
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