Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
“A angústia é, dentre todos os sentimentos e modos da existência
humana, aquele que pode reconduzir as mulheres e homens ao encontro de sua
totalidade como ser (…).” Martin Heidegger (1889 – 1976)
Gestação de um novo ser traz agora um aumento da angústia
vital.
Conceba por um momento que seu filho ou filha ainda não
nascido tem uma doença genética rara que fará do mesmo portador de uma vida
bastante limitada ou com poucas possibilidades de sobrevivência. Jamais será um
adulto normal. Acrescento: a sabedoria chinesa afirma que, quando se pergunta a
um asiático: — qual a sua idade? — ele acrescenta os 9 meses de vida
intrauterina que sabemos ser o espaço de tempo mais importante quando o ser
passa de ovo (junção de um espermatozoide com o óvulo), para embrião (feto)
para se tornar um recém-nascido e seguir uma nova vida fora da mãe. O
tempo de vida intrauterina é o mais formidável e transformador processo de toda
a existência dos seres. Caso tenha nascido no tempo da gestação de um ser
humano (em torno de 40 semanas), essas semanas serão mais importantes do que os
cerca de 90 anos que viverá fora do útero materno.
As transformações futuras serão sempre menores do que
aquelas que ocorrem na barriga da mãe. A vida intrauterina sempre foi um grande
mistério e provoca o que denomino angústia vital, mas forte do que outros
traumas que possam ocorrem durante a vida pós-parto.
Com o advento da ultrassonografia e demais avanços
médico-técnicos começamos a tomar “algum” conhecimento desse estágio da vida,
importante fase da existência do Homo sapiens e de outros animais. Por isso, é
compreensiva a expectativa do casal grávido (homem e mulher) quanto aos filhos
que gerou ou irá gerar.
O aumento dessa expectativa deve-se à biologia
tecnológica, que descobriu o genoma, que sintetiza todos os dados
transmitidos de uma geração de seres vivos para outra, armazenados em um
organismo que utiliza uma linguagem de códigos, mais precisamente no seu ‘DNA’
(ácido desoxirribonucleico), sendo uma categoria de ácido nucleico que possui
papel fundamental na hereditariedade, sendo considerado o portador da mensagem
genética, uma espécie de roteiro orgânico molecular que traz todas as
orientações que supervisionam a evolução, a atuação e as atitudes das entidades
vivas.
Vinte anos depois que o primeiro genoma humano foi mapeado,
o preço do sequenciamento do genoma completo caiu o custo a ponto de poder,
pelo menos em países ricos, ser oferecido habitualmente a todos os
recém-nascidos. O que de princípio parece ser um avanço da Medicina, agudiza a
denominada angústia vital.
A acepção desta tal de angústia vital está associada a
emoções que nos causam desconforto e consiste em um medo constante de ser
atacado a qualquer momento. Essas emoções limitam as pessoas que as sentem,
causando ansiedade, depressão ou outros sentimentos que levam a sensações
desagradáveis.
A angústia vital tem efeitos psicológicos e físicos na mãe
e no pai, durando muito tempo, indo mais do que o esperado e sendo acrescentado
à responsabilidade da criação de um novo ser, seu filho ou filha.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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