Por Sofia Lerche Vieira (*)
As manchetes de jornais sobre bons resultados cearenses no Índice
de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) não destacam que somos um estado
marcado por inúmeras desigualdades. Estudo recente do Fundo das Nações
Unidas para a Infância (Unicef) sobre "As múltiplas dimensões da pobreza
na infância e na adolescência no Brasil" revela que 83% de nossas crianças
e jovens são atingidos por tal condição (O POVO, 15 fev. 2023). Há ainda muito
por fazer para atender com qualidade os segmentos mais vulneráveis de
nossa população, particularmente na faixa etária compreendida entre o
nascimento e o fim da adolescência.
Os que mais precisam da educação, frequentemente, enfrentam as
maiores dificuldades para chegar à escola. É oportuno referir algumas. Um contingente
significativo de alunos residentes na zona rural estuda em escolas urbanas e,
por isso mesmo, faz uso do transporte escolar. Para aqueles que por razões
diversas não podem se deslocar para a cidade, as alternativas de espaços
escolares podem ser ainda mais difíceis.
Um grande número de crianças e jovens frequenta os
chamados anexos escolares ou extensões rurais, que funcionam em
condições precárias em instalações cedidas pelos municípios. Muitos alunos do
ensino médio estudam nessas escolas no turno noturno. As condições desses
espaços podem ser tão aviltantes que envolvem até mesmo o acesso e uso de
banheiros. Nessas instalações, não raro, estão os professores com mais baixa
formação e, por isso mesmo, sem condições de contribuir para o pleno acesso de
seus alunos ao conhecimento sistematizado. O que dizer, ainda, das condições
de socialização desses estudantes, muitos dos quais, sequer conhecem
a sede de seus municípios?
As condições de oferta de todas as etapas da educação
básica diferem de rede para rede, de escola para escola. Enfrentar essas
desigualdades internas e externas aos sistemas de ensino é condição básica para
uma educação que promova a cidadania de todos os cearenses. O desafio está
posto. O Ministério da Educação, ora ocupado por cearenses, tem papel
fundamental na superação de tais problemas.
(*) Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e
consultora da FGV-RJ.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 27/02/23. Opinião, p.16.
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