terça-feira, 11 de abril de 2023

ENFRENTAR AS DESIGUALDADES

Por Sofia Lerche Vieira (*)

As manchetes de jornais sobre bons resultados cearenses no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) não destacam que somos um estado marcado por inúmeras desigualdades. Estudo recente do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) sobre "As múltiplas dimensões da pobreza na infância e na adolescência no Brasil" revela que 83% de nossas crianças e jovens são atingidos por tal condição (O POVO, 15 fev. 2023). Há ainda muito por fazer para atender com qualidade os segmentos mais vulneráveis de nossa população, particularmente na faixa etária compreendida entre o nascimento e o fim da adolescência.

Os que mais precisam da educação, frequentemente, enfrentam as maiores dificuldades para chegar à escola. É oportuno referir algumas. Um contingente significativo de alunos residentes na zona rural estuda em escolas urbanas e, por isso mesmo, faz uso do transporte escolar. Para aqueles que por razões diversas não podem se deslocar para a cidade, as alternativas de espaços escolares podem ser ainda mais difíceis.

Um grande número de crianças e jovens frequenta os chamados anexos escolares ou extensões rurais, que funcionam em condições precárias em instalações cedidas pelos municípios. Muitos alunos do ensino médio estudam nessas escolas no turno noturno. As condições desses espaços podem ser tão aviltantes que envolvem até mesmo o acesso e uso de banheiros. Nessas instalações, não raro, estão os professores com mais baixa formação e, por isso mesmo, sem condições de contribuir para o pleno acesso de seus alunos ao conhecimento sistematizado. O que dizer, ainda, das condições de socialização desses estudantes, muitos dos quais, sequer conhecem a sede de seus municípios?

As condições de oferta de todas as etapas da educação básica diferem de rede para rede, de escola para escola. Enfrentar essas desigualdades internas e externas aos sistemas de ensino é condição básica para uma educação que promova a cidadania de todos os cearenses. O desafio está posto. O Ministério da Educação, ora ocupado por cearenses, tem papel fundamental na superação de tais problemas.

(*) Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 27/02/23. Opinião, p.16.

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