Por Cândido Albuquerque (*)
A pergunta foi: professor é verdade que os reitores das universidades
federais brasileiras são escolhidos pela própria comunidade, inclusive
com a participação dos alunos? Respondi, um tanto constrangido: sim, é verdade.
Insistiu o interlocutor: mas o aluno que acabou de entrar vota como, se ele não
conhece ninguém e nem sabe ainda como funciona uma universidade? E a
participação da comunidade na indicação do reitor não gera
divergências e a formação de grupos internos e o envolvimento de partidos
políticos na administração da universidade?
Respondi: sim gera tudo isso. E completei: as nossas universidades
estão perigosamente aparelhadas por partidos políticos e
completamente divididas. Discretamente o interlocutor completou: não vi nenhuma
universidade federal brasileira entre as 500 melhores universidades do mundo.
Defendi a UFC, informando que a nossa universidade, em 65 anos, tinha o
registro de apenas uma patente, e que entre 2019 e 2022, momento do diálogo,
havíamos conseguido mais 31 patentes.
O interlocutor, professor de uma universidade estrangeira disse ter
tomado conhecimento desse relevante desempenho da UFC nos últimos três anos.
Informei a ele que eu sou radicalmente contra o processo utilizado no
Brasil para a escolha dos reitores da IFES brasileira, e que a prática,
defendida pelos partidos de esquerda, na minha opinião, é um dos responsáveis
pelo baixo desempenho das nossas universidades nos rankings internacionais.
Timidamente, o professor começou a explicar como se dá a escolha
dos reitores nas melhores universidades do mundo. Todas elas possuem
um comitê de busca. No caso da universidade do professor em questão, uma
universidade estadual, o comitê é formado por 13 membros e apenas dois são da
universidade. Lá estão o chefe da polícia da cidade onde fica a reitoria, e
dois diretores de duas empresas com atuação internacional, além de outros
membros, todos convidados e nomeados pelo Governador do Estado.
Cabe a esse comitê, mediante edital, divulgar a seleção para reitor
da universidade e estabelecer as regras a serem seguidas pelos
candidatos. Terminado o processo, sem qualquer interferência da comunidade, o
comitê indica uma lista com dois, três ou quatro nomes para a escolha
do Governador. Não é proibido que um professor da própria universidade se
candidate, mas, nesse caso, terá ele poucas chances pois, como professor da
casa poderá formar grupos e ser influenciado por amigos e colegas. Lá, na
maioria absoluta das vezes o reitor não tem qualquer ligação com a
universidade. É livre para operar as mudanças que julgar necessárias e cobrar
resultados.
É assim em Harvard, Stanford, FIU e nas melhores universidades
do mundo. No Brasil ITA e IME, são os melhores, e não fazem consulta.
Aqui no Brasil a indicação dos reitores tornou-se, e tem sido
incentivado pelo atual governo, uma questão política. Chega-se ao absurdo de
dizer que a consulta resulta da autonomia universitária, o que é uma completa
manifestação de ignorância sobre o mundo universitário, já que a autonomia
administrativa e financeira diz respeito à liberdade de cátedra, linhas de
pesquisa e investimento, o que não temos, já que tudo é controlado por
Brasília.
Na verdade, as universidades federais brasileiras nem mais são
titulares de contas bancárias, estando tudo vinculado à conta
única do governo federal, o orçamento é livremente contingenciado pelo MEC
e pelo Planejamento. Brasília faz a gestão de pessoas como bem entende. No que
importa, não há mais autonomia.
Depois de aparelhar ideologicamente as universidades, os partidos
de esquerda criaram a narrativa (são bons nisso) segundo a qual a indicação do
reitor pela comunidade é algo correto e aceitável. Mas isso não é verdade. Pelo
contrário! As tais consultas para formação de listas tríplices são
hoje um grande problema para as nossas universidades, inclusive pelo
envolvimento dos partidos políticos.
Nesse universo de guerra ideológica, as candidaturas, quase que
invariavelmente, são analisadas pelo viés ideológico e são medidas e
pesadas pelo peso e aproximação com o poder. Ninguém precisa mostrar que é bom
gestor. Verdadeiramente isso nem mesmo é considerado. Infelizmente essa é a
regra e temos que participar.
As nossas universidades federais estão pedindo socorro, mas o
nosso Parlamento não ouve.
(*) Reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Fonte: Publicado In: O Povo, de 19/04/23. Opinião, p.19.
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