Nas proximidades do atual Hospital do Exército,
situado à Avenida Desembargador Moreira, também estava localizado o mui famoso
Cabaré da Margô. Margô era uma moça alta, esguia e charmosa que veio à
Fortaleza para gerenciar o Night Club, estabelecimento que funcionou na Rua
Dragão do Mar no tempo da 2ª. Guerra.
Tão bem se saiu nesse ofício, que não lhe faltou
quem financiasse a montagem de uma casa particular, exclusivamente sua, que se
notabilizou pela excepcional categoria dos hóspedes.
Naquele tempo a Aldeota praticamente não tinha
moradores, o lugar era conhecido como mata da Aldeota. Margô, estrategicamente,
montou sua casa nas proximidades do atual Hospital do Exército – que já existia
– mas que tinha um acesso bastante complicado.
O cabaré da Margô era frequentado pelos homens da
elite: empresários, coronéis, políticos, grandes fazendeiros; muitas
personalidades de destaque em Fortaleza eram vistas por lá. Até um respeitável
deputado que, ocasionalmente, assumia o governo do Estado.
Aconteceu que um dia, um jovem e entusiasmado
delegado de polícia, flagrou a presença de menores no cabaré da Margô. Fez o
que mandava a lei: prendeu a cafetina, fechou o cabaré, deu uma batida no local
em busca de outras irregularidades, mandou abrir inquérito.
O resultado disso foi uma grande confusão: por trás
das grades, Margô fez valer o seu prestígio político. O Deputado amigo, cliente
assíduo do estabelecimento, estava à frente do governo e adotou medidas
radicais, de modo a que ficasse claro seu apreço pela amiga “ofendida”: demitiu
sumariamente o delegado.
No dia seguinte, o jornal Gazeta de Notícias – que
fazia oposição ao governo – abriu manchete com estardalhaço: "Cafetina Margô demite delegado". Escândalo sem tamanho, que o governo teve de
correr para se explicar através dos seus assessores e aliados políticos.
Ao reassumir o cargo, o governador titular recolocou
as coisas em seus devidos lugares, ou seja, desfez o ato de demissão do
delegado. Mas o cabaré da Margô continuou em funcionamento, de vento em popa,
com ou sem a presença de menores.
Extraído
do livro de Blanchard Girão "Sessão das Quatro" cenas e atores de um
tempo mais feliz
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