domingo, 28 de maio de 2023

O CABARÉ DA MARGÔ

Nas proximidades do atual Hospital do Exército, situado à Avenida Desembargador Moreira, também estava localizado o mui famoso Cabaré da Margô. Margô era uma moça alta, esguia e charmosa que veio à Fortaleza para gerenciar o Night Club, estabelecimento que funcionou na Rua Dragão do Mar no tempo da 2ª. Guerra.

Tão bem se saiu nesse ofício, que não lhe faltou quem financiasse a montagem de uma casa particular, exclusivamente sua, que se notabilizou pela excepcional categoria dos hóspedes.

Naquele tempo a Aldeota praticamente não tinha moradores, o lugar era conhecido como mata da Aldeota. Margô, estrategicamente, montou sua casa nas proximidades do atual Hospital do Exército – que já existia – mas que tinha um acesso bastante complicado.

O cabaré da Margô era frequentado pelos homens da elite: empresários, coronéis, políticos, grandes fazendeiros; muitas personalidades de destaque em Fortaleza eram vistas por lá. Até um respeitável deputado que, ocasionalmente, assumia o governo do Estado.

Aconteceu que um dia, um jovem e entusiasmado delegado de polícia, flagrou a presença de menores no cabaré da Margô. Fez o que mandava a lei: prendeu a cafetina, fechou o cabaré, deu uma batida no local em busca de outras irregularidades, mandou abrir inquérito.

O resultado disso foi uma grande confusão: por trás das grades, Margô fez valer o seu prestígio político. O Deputado amigo, cliente assíduo do estabelecimento, estava à frente do governo e adotou medidas radicais, de modo a que ficasse claro seu apreço pela amiga “ofendida”: demitiu sumariamente o delegado.

No dia seguinte, o jornal Gazeta de Notícias – que fazia oposição ao governo – abriu manchete com estardalhaço: "Cafetina Margô demite delegado". Escândalo sem tamanho, que o governo teve de correr para se explicar através dos seus assessores e aliados políticos.

Ao reassumir o cargo, o governador titular recolocou as coisas em seus devidos lugares, ou seja, desfez o ato de demissão do delegado. Mas o cabaré da Margô continuou em funcionamento, de vento em popa, com ou sem a presença de menores.

Extraído do livro de Blanchard Girão "Sessão das Quatro" cenas e atores de um tempo mais feliz


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