Por Paulo Campelo (*)
Não é fácil
conviver com a obesidade. Meu lugar de fala não é de quem tem obesidade,
mas de quem trata essa doença crônica, complexa e que já atinge quase 20% da
população brasileira e da capital cearense. Se contarmos que temos quase 60%
dos brasileiros acima do peso, podemos vislumbrar o grave cenário que se
aproxima.
No Brasil, a
World Obesity Federation estima que até 2030 serão 29 milhões de mulheres, 21
milhões de homens e 7,7 milhões de crianças com obesidade - 30% da população. É um grave problema de saúde pública e fazemos esse alerta no entorno
do Dia Mundial da Obesidade, 4 de março.
No meu
consultório recebo pacientes para cirurgia bariátrica com obesidade e doenças associadas, as chamadas comorbidades, já
instaladas e descompensadas que lutam não só contra o peso, mas contra a
hipertensão, diabetes, gordura no fígado, dores nos joelhos e coluna, refluxo,
depressão, ansiedade, limitações físicas, baixa estima.
Isso tudo piora
com a estigmatização da "pessoa gorda" que não tem uma cadeira
adequada para sentar, que não encontra o que vestir, que perde oportunidades de trabalho, que é ridicularizada na rua pela sua
aparência, que é taxada de "fraca" ou "preguiçosa" por não
conseguir perder peso. Isso está errado!
Obesidade é uma
doença e na sua complexidade e
multifatorialidade precisa ser tratada da mesma forma. A pessoa com obesidade deve ser
acolhida e, muitas vezes, recebo relatos de discriminação do próprio
profissional de saúde. Outro dia uma paciente me relatou que um profissional
disse que ela "tinha que nascer de novo". Isso é inadmissível.
De outro lado,
temos ainda outro contexto ainda mais preocupante no Brasil, o dos invisíveis,
os que dificilmente terão acesso a tratamentos para a obesidade mórbida, como a
cirurgia bariátrica. São pessoas que se alimentam do que é possível, comidas
de baixo custo, ultraprocessadas, com alto teor de
gorduras e carboidratos, bebidas açucaradas, não comem frutas nem verduras e
legumes e pouquíssimas carnes. Alguns países já repensaram formas de cuidar da
alimentação de sua população na forma na lei. E nós precisamos fazer isso também para barrar a epidemia de
obesidade.
(*) Médico. Cirurgião bariátrico.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 7/04/2023. Opinião. p.18.
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