Por Keny Colares (*)
A febre
maculosa tem recebido atenção, após surto recente ocorrido em Campinas. Foram
registrados 16 casos suspeitos e 4 óbitos, após eventos com mais de 3.000
pessoas. Isto despertou a atenção para um problema pouco reconhecido. Afinal,
qual o risco para a nossa saúde e o que podemos fazer para nos proteger?
A doença é
causada por bactérias chamadas riquétsias. No Brasil, foi reconhecida em 1929.
Desde 2007 foram confirmados 2.868 casos e 925 óbitos, com letalidade de 32%,
predominando nas regiões Sudeste e Sul. No Ceará, foi identificada em 2010, com
total de 36 casos até hoje, a maioria na região de Baturité (94,4%). A
transmissão costuma ocorrer por picada de carrapatos infectados, que podem não
ser percebidos. A exposição costuma ocorrer após contato com vegetação ou
animais, em regiões de mata das cidades ou interior, usualmente em atividades
ocupacionais ou de lazer.
Costuma se
manifestar com febre, dor de cabeça e no corpo, cerca de 1 semana após
contaminação (até 14 dias). Após alguns dias, costumam surgir manchas no corpo,
que podem sugerir o diagnóstico. Pode haver agravamento do caso, com
envolvimento de órgãos e da circulação em extremidades, com risco de sequelas
ou óbito. O tratamento precoce com antibióticos é a medida mais importante para
evitar as complicações. O maior desafio é a diferenciação com outras doenças
febris mais comuns entre nós, como a dengue. Nesse contexto, a história de
contato com carrapatos, exposição ambiental recente ou presença de manchas na
pele são os sinais mais úteis.
Podemos
concluir que a doença representa risco para pessoas com exposição ambiental.
São recomendadas medidas preventivas, como uso de roupas claras cobrindo o
corpo, repelentes, evitando contato direto com o mato. Após contato, realizar
limpeza da pele exposta com bucha e sabão. Se identificado carrapato no corpo,
a retirada deve ser cuidadosa. Caso surja febre, o indivíduo deve buscar
atendimento, informando sua exposição. No atendimento de caso suspeito, o
profissional da saúde deve estar atento aos sinais da doença, iniciando
tratamento oportuno.
(*)
Médico infectologista e
professor da Unifor.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 22/06/2023. Opinião. p.20.
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