Por Tales de Sá Cavalcante (*)
O economista e diplomata Roberto Campos dizia: "O
conservador quer preservar o 'status quo', enquanto o liberal aceita mudanças,
desde que emanadas do mercado competitivo ou provindas do voto
democrático". E então se definia como um "'liberista' que vê no
governo um mal necessário. Às vezes, absolutamente necessário".
Conhecido por suas posições à direita, proferiu um belo discurso de
posse, quando eleito para a cadeira antes ocupada por Dias Gomes
na Academia Brasileira de Letras. Em sua oração, Campos lembrou:
"Dias Gomes, que se considerava um subversivo vocacional, aderiu
ao Comunismo em 1945, e, sem ser um ativista ou fanático, nele
permaneceu até 1971, desviando-se da linha do partido ao protestar em 1966
contra o mau tratamento dado aos escritores soviéticos."
Já maduro, em 1996, segundo o relato, Dias Gomes afirmou:
"Sou um homem aberto hoje em dia. Muitas ideias foram reformuladas, mas
continuo um homem de esquerda. Isso se você considera ser de esquerda somente
sonhar com uma sociedade mais justa e mais liberta."
Assim Campos reclamou do destino por não lhe ter dado um "papo
cabeça" com Dias Gomes: "Agora que conheço bem a obra de Dias Gomes,
lamento não tê-lo conhecido (…) Que pena, não ter tido um 'papo cabeça' com
Dias Gomes." Seria a direita conversando com a esquerda.
Para o voraz leitor e ex-ministro Golbery do Couto e Silva,
durante uma gripe, podemos pôr a leitura em dia. Numa recente virose, muito li
e, nostálgico, assisti a capítulos de "O Bem-Amado", inesquecível novela
de Dias Gomes, hoje uma série. A notoriedade do autor e dos grandes artistas,
em especial Paulo Gracindo, o "prefeito", perenizou o drama. E quem a
ele assiste agora surpreende-se com a atualidade das geniais críticas à nossa
política, apesar dos 50 anos passados. Até parece que Odorico Paraguaçu assumiu
ontem, e, como em Sucupira, as atitudes dos personagens, a destacar a
ingênua pureza dos humildes pescadores, ainda permanecem nos pequenos povoados
praianos. Ao se observar nosso diminuto progresso, vê-se o talento de Dias
Gomes evidenciar a sua imortalidade cada vez mais viva.
(*) Reitor do FB UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias
Brito. Presidente da Academia Cearense de Letras.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 27/7/23. Opinião, p.20.
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