quarta-feira, 6 de setembro de 2023

E O ACQUARIO CEARÁ, CID GOMES?

Por Ítalo Coriolano (*)

Era para ser um motivo de orgulho para o cearense. Promessa para ajudar a revitalizar a Praia de Iracema, em Fortaleza, atraindo turistas e novos investimentos. Contudo, o efeito foi oposto: virou alvo de chacota e está degradando uma das áreas mais nobres da capital. Falo do Acquario Ceará, obra iniciada em 2012 pelo então governador Cid Gomes (PDT) e paralisada há mais de oito anos, após decisão do seu sucessor e aliado, Camilo Santana (PT), de não colocar mais verba pública no projeto, que já consumiu cerca de R$ 130 milhões.

Nesse intervalo de tempo, buscas por recursos internacionais, tentativa de parceria com a iniciativa de privada, mas, de concreto, nada aconteceu em mais de uma década. Um esqueleto abandonado que virou símbolo do mau uso do dinheiro público e da falta de planejamento. O tempo passa e não se sabe ao certo o que será feito daquela estrutura horrenda. Não temos noção nem se ela ainda serve para alguma coisa.

Afinal, qual a real situação do Acquario? Dá para se aproveitar algo ou a obra está condenada, após anos de sol, chuva e maresia? De início, é necessário fazer uma vistoria e elaborar laudo técnico para que se possa vislumbrar quais decisões seguintes devem ser tomadas. Derruba tudo e faz uma praça? Continua a obra e conclui o oceanário? Aproveita a estrutura para fazer algo diferente? O ex-deputado Acrísio Sena (PT), atual presidente do Instituto Centro de Ensino Tecnológico (Centec), já apresentou uma ideia: criar um aquário digital, à la MIS (Museu da Imagem e do Som), projetando vídeos de peixes e mamíferos marinhos nas paredes. Proposta polêmica, mas é melhor do que não ter nada.

Tudo ainda é uma incógnita, mas não restam dúvidas de que passou da hora de dar novos rumos ao caso. O que não pode é deixar tudo do jeito que está, abandonado, acumulando lixo, sendo foco de doenças, enfeiando a paisagem de um dos nossos principais cartões postais.

Há outras prioridades para o Estado? Com toda certeza. Era assim em 2012, é agora em 2023. Mas é um caminho sem volta. Que se conclua o projeto ou se encontre uma alternativa. Vão esperar mais quantos anos para tomar uma atitude efetiva? O aniversário de 20, 30 anos, um século de inoperância? O grupo político que hoje comanda o Ceará tem por obrigação dar uma resposta à sociedade.

E aqui, com todo respeito, cabe uma cobrança em especial ao hoje senador Cid Gomes, idealizador da obra. Contra tudo e contra quase todos, mesmo após os inúmeros alertas e questionamentos, bancou a ideia do empreendimento e seguiu em frente, numa teimosia que lhe é característica, para o bem e para o mal. O pedetista tinha a obrigação de estar ao menos em busca dos recursos para concluir a obra ou de alguma saída para a situação. O que não dá é para criar o problema e simplesmente lavar as mãos. Ele está há mais de quatro anos no Senado. Nesse período, conseguiu mobilizar quanto de dinheiro para o que, hoje, é apenas um trambolho? Tem utilizado sua influência junto a empresários, tentado convencer alguém da viabilidade do projeto? Não sabermos. Diante de tudo o que aconteceu, é até questão de honra mover mundos e fundos para tentar achar uma solução.

Nesse sentido, o prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), está coberto de razão ao cobrar do governo estadual uma resposta, chegando ao ponto de pedir para executar a obra. Não sei nem se o município tem recursos para isso, mas a pressão se faz necessária para acabar com esse marasmo em torno do assunto. Infelizmente, foi necessário que o grupo do qual fez parte se acabasse para que o pacto de silêncio no consórcio governista fosse quebrado. Já é um dos pontos positivos do fim da superaliança que ditou os rumos do Ceará por mais de 16 anos. Caso esse fato seja capaz de destravar o Acquario, já era sido mais do que válido, e a população talvez reflita se realmente esse tipo de alinhamento vale mesmo a pena. 

(*) Jornalista de O Povo.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 4/08/23. Opinião, p.21.

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