Por Ítalo Coriolano (*)
Era para ser um motivo de orgulho para o cearense. Promessa para
ajudar a revitalizar a Praia de Iracema, em Fortaleza, atraindo turistas e
novos investimentos. Contudo, o efeito foi oposto: virou alvo de chacota e está
degradando uma das áreas mais nobres da capital. Falo do Acquario Ceará,
obra iniciada em 2012 pelo então governador Cid Gomes (PDT) e paralisada há
mais de oito anos, após decisão do seu sucessor e aliado, Camilo Santana (PT),
de não colocar mais verba pública no projeto, que já consumiu cerca de R$ 130
milhões.
Nesse intervalo de tempo, buscas por recursos internacionais,
tentativa de parceria com a iniciativa de privada, mas, de concreto, nada
aconteceu em mais de uma década. Um esqueleto abandonado que virou
símbolo do mau uso do dinheiro público e da falta de planejamento. O tempo
passa e não se sabe ao certo o que será feito daquela estrutura horrenda. Não
temos noção nem se ela ainda serve para alguma coisa.
Afinal, qual a real situação do Acquario? Dá para se aproveitar
algo ou a obra está condenada, após anos de sol, chuva e maresia? De início, é
necessário fazer uma vistoria e elaborar laudo técnico para que se
possa vislumbrar quais decisões seguintes devem ser tomadas. Derruba tudo e faz
uma praça? Continua a obra e conclui o oceanário? Aproveita a estrutura para
fazer algo diferente? O ex-deputado Acrísio Sena (PT), atual presidente do
Instituto Centro de Ensino Tecnológico (Centec), já apresentou uma ideia: criar
um aquário digital, à la MIS (Museu da Imagem e do Som), projetando vídeos de
peixes e mamíferos marinhos nas paredes. Proposta polêmica, mas é
melhor do que não ter nada.
Tudo ainda é uma incógnita, mas não restam dúvidas de que passou da
hora de dar novos rumos ao caso. O que não pode é deixar tudo do jeito que
está, abandonado, acumulando lixo, sendo foco de doenças, enfeiando a paisagem
de um dos nossos principais cartões postais.
Há outras prioridades para o Estado? Com toda certeza. Era assim em
2012, é agora em 2023. Mas é um caminho sem volta. Que se conclua o projeto ou
se encontre uma alternativa. Vão esperar mais quantos anos para tomar uma
atitude efetiva? O aniversário de 20, 30 anos, um século de inoperância?
O grupo político que hoje comanda o Ceará tem por obrigação dar uma
resposta à sociedade.
E aqui, com todo respeito, cabe uma cobrança em especial ao
hoje senador Cid Gomes, idealizador da obra. Contra tudo e contra quase
todos, mesmo após os inúmeros alertas e questionamentos, bancou a ideia do
empreendimento e seguiu em frente, numa teimosia que lhe é característica, para
o bem e para o mal. O pedetista tinha a obrigação de estar ao menos em busca
dos recursos para concluir a obra ou de alguma saída para a situação. O que não
dá é para criar o problema e simplesmente lavar as mãos. Ele está há mais de
quatro anos no Senado. Nesse período, conseguiu mobilizar quanto de
dinheiro para o que, hoje, é apenas um trambolho? Tem utilizado sua influência
junto a empresários, tentado convencer alguém da viabilidade do projeto? Não
sabermos. Diante de tudo o que aconteceu, é até questão de honra mover mundos e
fundos para tentar achar uma solução.
Nesse sentido, o prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), está
coberto de razão ao cobrar do governo estadual uma resposta, chegando ao ponto
de pedir para executar a obra. Não sei nem se o município tem recursos para
isso, mas a pressão se faz necessária para acabar com esse marasmo em torno do
assunto. Infelizmente, foi necessário que o grupo do qual fez parte se acabasse
para que o pacto de silêncio no consórcio governista fosse quebrado.
Já é um dos pontos positivos do fim da superaliança que ditou os rumos do Ceará
por mais de 16 anos. Caso esse fato seja capaz de destravar o Acquario, já era
sido mais do que válido, e a população talvez reflita se realmente esse tipo de
alinhamento vale mesmo a pena.
(*) Jornalista de O Povo.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 4/08/23. Opinião, p.21.
Nenhum comentário:
Postar um comentário