Por Carlos Roberto Martins
Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)
Escrevo para
os amigos, aqueles que há tempos não vejo, mas que cada vez mais estão
próximos. Provavelmente pela lembrança da infância e da juventude de sonhos e fantasias, que com o passar dos anos são mais vivas, pois contam com simplicidade
d'alma.
Escrevo para
viver a saudade dos que partiram... Com a sensação que estão
e não se foram. Pois, eles são a nossa identidade, a melodia das noites de
outrora.
As memórias
vão ficando cada vez mais vivas, chegando a perceber-se no quase tocar. Talvez
por entender com pura poesia e música sem a qual não dá para viver. Resta-nos as recordações, os momentos em que o espírito é um vulto de encantos.
De uma forma
intransigente, por vezes da minha personalidade, entrego-me à emoção do dia a
dia, em cada ato, seja solene ou comum, assim como no passado e num futuro de
vontade, vestido de utopia e principalmente de crenças.
Acredito nas
pessoas, visto pelo tempo em que as observo nas suas contradições, nas suas loucuras e nos seus medos, na transferência de hábitos
familiares, que em parte, ordenam os erros, os acertos e o sofrimento.
Ao longo dos
anos, venho observando e assistindo à morte quando fecha um ciclo, independente
de sua época, quer seja sob a espada mais aguda de um campo de batalha, ou mesmo diante das traições da vida urbana atual e complexa. E, ainda,
pela certeza de completar o destino de nosso corpo e espírito, e, finalmente,
pelo encontro consigo mesmo.
Viver é ter a
humildade de lidar com o imprevisível, com a sensação de finitude, com toda a
angústia da não sobrevivência, que muitas vezes nos induz a comportamentos
anacrônicos e insensatos.
É, a vida de
médico deu-me oportunidades incomuns. Do prazer insubstituível da sensação de
ajudar, como se fosse cada momento eterno, a cada diálogo no contexto de uma
vida, que no mesmo instante é única no sofrimento e angústia, mas é múltipla
no desejo e esperança.
Por tudo isso,
agradeço a oportunidade de viver, de ver os anos que se vão, com suas dores
pelos desencontros, e quase que ao mesmo tempo pela intuição infalível da
continuidade de tudo, pelos amigos, pelos mais próximos e pela sucessão
das vidas em conjunto.
(*) Médico. Professor da UFC.
Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.
Fonte:
Publicado In: O Povo, de 12/08/2023.
Opinião. p.19.
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