Por Evangelista Torquato (*)
Com tantas
campanhas ao longo do ano, ainda encontramos aqueles que consideram a
dificuldade de ter filhos um problema menor, que não merece espaço nas
políticas de assistência e nos meios de comunicação. Na contramão desse pensamento, os dados mostram que olhar a saúde reprodutiva é
urgente e inevitável.
A Organização
Mundial da Saúde (OMS) divulgou no último mês de abril um estudo que comprova
um fato com o qual nos deparamos todos os dias no consultório: a infertilidade
está aumentando. O relatório da OMS alerta que 1 em cada 6 pessoas será afetada
pela infertilidade ao longo da vida. Trata-se de um importante problema de saúde pública, que atinge homens e mulheres em todo o
mundo, sem distinção de classes sociais. O acesso aos tratamentos, por outro
lado, continua desigual.
Aliado a isso,
temos, no Brasil, uma diminuição da taxa
de fecundidade, que é a
medida de quantos filhos as mulheres têm ao longo da sua vida reprodutiva.
Segundo dados do IBGE, em 1960, as brasileiras tinham em média 6,28 filhos. Em
2010, essa média caiu para 1,87. A estimativa é que a taxa de fecundidade
atinja o patamar de 1,5 em 2030.
O número médio
de filhos por mulher vem se reduzindo no Brasil por importantes mudanças
culturais, com o aumento da escolaridade, a ampliação do acesso aos métodos
contraceptivos e, principalmente, o protagonismo das mulheres no mercado de trabalho.
Esses mesmos fatores as levaram a adiar a maternidade. No entanto, as mulheres
têm uma reserva ovariana limitada, que vai caindo ao longo da vida
reprodutiva.
Engravidar
mais tarde impacta negativamente nas chances de gestação natural e no sucesso dos
tratamentos de reprodução assistida. A única forma de preservar a fertilidade feminina, diante do tempo ou de um câncer, é o congelamento de óvulos.
Não há
silêncio que não termine. Falaremos sobre a infertilidade. Alertaremos as mulheres que sua capacidade reprodutiva é finita e que há alternativas para preservá-la. E, sobretudo,
buscaremos tornar a reprodução assistida mais democrática para todos
(as).
(*) Ginecologista com atuação em reprodução humana.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 4/09/2023. Opinião. p. 18.
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