quinta-feira, 5 de outubro de 2023

EDUCAÇÃO, CRIATIVIDADE, TRABALHO E JUVENTUDES

Por Cláudia Leitão (*)

O Brasil é o segundo país (o primeiro é a África do Sul), de um total de 37 países, com maior proporção de jovens, com idade entre 18 e 24 anos, que não estudam e não trabalham. A pesquisa, apresentada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta que 36% dos jovens brasileiros se encontram excluídos da escola e do mercado de trabalho.

O Brasil tem mais jovens que não estudam e nem têm ocupação do que os outros países da América do Sul, como Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia. Ser um jovem, pobre e pardo/negro no Brasil o insere em uma trágica categoria: a dos "jovens matáveis".

Segundo Giorgio Agamben, ao participar desse grupo, qualquer um pode matá-lo sem cometer homicídio, pois a sua inteira existência é reduzida a uma vida despojada de todo direito. A invisibilidade, o apagamento e o aniquilamento aproximam historicamente as juventudes brasileiras da necropolítica.

Basta consultarmos o Atlas da Violência do Instituto de Pesquisa e Estudos Aplicados (Ipea, 2020), no qual a taxa de homicídios de negros no Brasil saltou de 34 para 37,8 por 100 mil habitantes entre 2008 e 2018, o que representa aumento de 11,5% no período.

Registram-se 57 mil homicídios de jovens por ano - em sua maioria, pobres, pardos e negros. É tarefa do Estado educar as juventudes para o novo trabalho e reconhecer a transfiguração das ocupações no século XXI.

Se observarmos o Código Nacional de Atividade Econômica (CNAE), que indica a razão de existir de uma empresa, não encontraremos, por exemplo, as atividades econômicas relativas à criação, essenciais aos trabalhadores da cultura e da economia criativa.

Ora, enquanto os setores culturais e criativos atraem as juventudes brasileiras para um novo trabalho, os currículos escolares não refletem essa demanda. Que educação para competências criativas estamos oferecendo às nossas crianças e jovens no Brasil? Afinal, criatividade e cultura também se aprendem na escola e, ao perdermos nossas juventudes, estamos assumindo que somos um país sem futuro.

(*) Cientista Social. Ex-secretária de Cultura do Estado do Ceará. Professora da Uece.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 4/09/23. Opinião. p.18.

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