Por Cláudia Leitão (*)
O Brasil é o segundo país (o primeiro é a África do Sul), de um total
de 37 países, com maior proporção de jovens, com idade entre 18 e 24 anos, que
não estudam e não trabalham. A pesquisa, apresentada pela Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta que 36% dos jovens
brasileiros se encontram excluídos da escola e do mercado de trabalho.
O Brasil tem mais jovens que não estudam e nem têm ocupação do que
os outros países da América do Sul, como Argentina, Paraguai, Uruguai e
Bolívia. Ser um jovem, pobre e pardo/negro no Brasil o insere em uma trágica
categoria: a dos "jovens matáveis".
Segundo Giorgio Agamben, ao participar desse grupo, qualquer um
pode matá-lo sem cometer homicídio, pois a sua inteira existência é reduzida a
uma vida despojada de todo direito. A invisibilidade, o apagamento e o
aniquilamento aproximam historicamente as juventudes brasileiras da
necropolítica.
Basta consultarmos o Atlas da Violência do Instituto de Pesquisa e
Estudos Aplicados (Ipea, 2020), no qual a taxa de homicídios de negros no
Brasil saltou de 34 para 37,8 por 100 mil habitantes entre 2008 e 2018, o que
representa aumento de 11,5% no período.
Registram-se 57 mil homicídios de jovens por ano - em sua maioria,
pobres, pardos e negros. É tarefa do Estado educar as juventudes para o
novo trabalho e reconhecer a transfiguração das ocupações no século XXI.
Se observarmos o Código Nacional de Atividade Econômica (CNAE), que
indica a razão de existir de uma empresa, não encontraremos, por exemplo, as atividades
econômicas relativas à criação, essenciais aos trabalhadores da cultura e da
economia criativa.
Ora, enquanto os setores culturais e criativos atraem as juventudes
brasileiras para um novo trabalho, os currículos escolares não refletem essa
demanda. Que educação para competências criativas estamos oferecendo às nossas
crianças e jovens no Brasil? Afinal, criatividade e cultura também se aprendem
na escola e, ao perdermos nossas juventudes, estamos assumindo que somos um
país sem futuro.
(*) Cientista Social. Ex-secretária de Cultura do Estado do Ceará.
Professora da Uece.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 4/09/23. Opinião. p.18.
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