Por Josias Cavalcante (*)
O Sr. José Baltazar Lopes Barreira,
conhecido como Baltazar Barreira, foi um respeitado industrial, proprietário da
Fundição Ceará, que funcionava na Rua Dom Luís s/n, com escritório na Rua Major
Facundo nº 182, e diácono da Igreja Presbiteriana de Fortaleza. Isso por volta
dos anos 20 a 60. Sempre levando uma vida talhada pela conduta sadia, combatia
veementemente os vícios do tabagismo e alcoolismo. Tinha uma verdadeira
obstinação para combater os vícios humanos, sendo considerado um apóstolo dos
bons costumes. Frequentador assíduo da antiga Praça do Ferreira, Baltazar
azucrinava a vida dos tabagistas que frequentavam e fumavam naquele logradouro.
Para muitos era considerado um chato de galocha. Sua obstinação contra os
vícios era tão grande que criou uma associação chamada BACOVI (Barreira Contra
o Vício), uma sociedade fundada em 15 de novembro de 1946 que funcionava na
Avenida Visconde do Rio Branco, nº 1605, composta por alguns intelectuais e
pessoas de projeção da cidade. Ao mesmo tempo, ele escrevia crônicas sobre
tabagismo nos jornais, “O Unitário” e “Correio de Ceará”, hoje, fora de
circulação.
Em uma determinada tarde, pelos idos dos anos 50, um
senhor fumava desesperadamente um cigarro atrás do outro, sentado em um dos
bancos da Praça do Ferreira. Observando aquela cena do fumante inveterado,
Baltazar não perdeu tempo, aproximou-se do cidadão e iniciou uma conversa: vejo
que o senhor está sentado aí há algum tempo e fumando muito, e com toda certeza
é um apreciador do tabagismo. Ao que o fumante respondeu, gosto muito de fumar,
sim, e já o faço há muitos anos.
Baltazar então prolongou a conversa e perguntou: há
quanto tempo o amigo fuma. A resposta veio imediata, não tenho certeza amigo,
mas faz mais de 25 anos.
Acredito que o amigo sabe dos malefícios que a nicotina
causa no organismo.
Ah, eu sei, sim!
Mas Baltazar não satisfeito e tentando convencer o
cidadão a parar de fumar, disse: amigo estou falando no bolso, que é o lugar
mais sensível do homem. O Sr. já pensou na economia que faria se tivesse
economizado o dinheiro dos cigarros que fumou durante todos esses 25 anos?
E apontado para o Prédio do Cine São Luiz que acabara de
ser inaugurado disse: o senhor poderia ter construído um prédio como esse!
É verdade amigo, respondeu o cidadão fumante que
acrescentou. E o senhor nunca fumou? Qual é a sua idade?
Eu tenho 50 anos e nunca coloquei esse veneno na minha
boca, disse o Baltazar.
Somos mais ou menos da mesma idade amigo, e como o senhor
não fuma deve ser o proprietário deste prédio!
Não, não meu amigo, quem me dera ser dono deste prédio!
Pois eu sou amigo. Meu nome é Luiz Severiano Ribeiro, o
dono deste cinema!
Para quem não sabe, Baltazar Barreira morreu no dia 04 de
fevereiro de 1979, aos 95 anos de idade, de causas naturais.
Da mesma maneira o fumante Luiz
Severiano, conhecido como o “Rei do Cinema” conseguiu chegar aos 88 anos de vida!
(*) Josias Cavalcante é um médico pneumologista cearense que integrou a
Comissão Estadual de Controle do Tabagismo da SESA/Ceará. Hoje reside em Belém
do Pará.
Fonte: Josias Cavalcante. In: Fatos pitorescos de uma Fortaleza antiga! Fortaleza – 293 anos!
Nenhum comentário:
Postar um comentário