Por Carlos Roberto Martins
Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)
Andei por
todos os cantos e me apaixonei pelo tempo e pelas lembranças que já não me
cabem numa só vida.
Mesmo quando
já não faço tantos planos e ensejo o futuro como o passado não
curtido. Quando, paulatinamente, é o silêncio que fala por si, que simplesmente
compreende.
Não é preciso
uma só palavra.
São os acordos
de uma caminhada, uma maneira quieta, com uma pitada de melancolia, seguida
quase ao mesmo tempo, pela plasticidade em nossas vidas.
Penso, assim!
Quero
envelhecer todos os minutos, especialmente, para não prever o futuro, para
aceitar não terminar a missão, mesmo ciente do tanto por fazer. Quero descrer
das "verdades", e lembrar sem tristeza, pois envelhecer é, para mim,
um ato de humildade.
É que não tem idade o destino!
E quando eu
cansar quero deixar meu corpo em paz. Vou sentir a brisa bem quietinho para ter
certeza que vai durar.
Vou tomar cada
momento com os meus, para abrandar a luta de uma vida que não passa assim tão
facilmente, que dá vertigem em alguns momentos.
Quero lembrar
das conversas inusitadas e curiosas que me fizeram gargalhar, refletir e parar. Simplesmente por falar do que não foi dito, do que
nos é implícito e tão mais sutil mais gentil e mais verdadeiro.
Quando eu me
for, quero estar guardado dentro dos meus pensamentos e ir suave, com muita brandura.
Quando assim o
for, o farei com minhas fraquezas, com as poucas virtudes, mas, fá-lo-ei sem
vaidade, sem medo da dor e sem preconceito. Aceitarei, enfim, o encontro comigo
mesmo.
Findo com uma escrita guardada há anos, mas que me parece oportuna:
Enfim, que o
silêncio conte algo sem parecer ausência ou negligência. Que seja somente
conformação diante dos fatos. Que experimente cada dia a dúvida do amanhã, do
corpo que envelhece como se o instante fossem anos...
Repentinamente, foi tudo tão rápido!
O acordar de
um sonho, a Ilusão de um tempo que insistia, o acordar de um corpo que não mais
me pertence. Não é uma sentença, nem tampouco um castigo. Não exige penitência.
Faz nascer a solidão que aquieta os desejos.
E com aqueles
que sinto a vida, compartilho a minha sina, pois dividem comigo as escolhas e a minha missão.
Muito mais que
tudo, são as minhas contradições de outrora, que se renovam a cada dia, como
uma marca do passado, da genética, da tradução do espírito, e de gerações que se sucedem...
(*) Médico. Professor da UFC.
Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 7/10/2023. Opinião. p.19.
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