segunda-feira, 13 de novembro de 2023

O PÚBLICO, O PRIVADO E A EDUCAÇÃO

Por Sofia Lerche Vieira (*)

O debate acerca da presença do privado na educação pública brasileira tem sido um tema recorrente em nossa trajetória. O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, publicado em 1932, representou importante marco na defesa intransigente de uma educação pública, gratuita e laica para todos os brasileiros. Sua mensagem permanece atual.

A construção de espaços e privilégios à sombra do Estado nunca foi uma exclusividade da educação. Segmentos do setor privado souberam fazer uso de benefícios públicos em praticamente todas as esferas da vida pública. A oscilação do pêndulo de maior ou menor presença do Estado no âmbito econômico e social, por sua vez, traduz contextos históricos diferenciados. Em períodos de maior pujança, o poder público tende a se retrair da esfera econômica, buscando reduzir suas áreas de atuação. A defesa de um estado mínimo está associada a tais contextos.

Se no passado proprietários de escolas se beneficiavam de subsídios estatais, hoje o campo de atuação desses atores é mais complexo. Em cenários contemporâneos, velhas e novas formas de convivência se entrelaçam. Agentes privados dos mais diferentes matizes ocupam espaços na educação pública com configurações e propósitos diversos.

Na zona nem sempre iluminada da esfera pública hoje se fazem presentes conglomerados editoriais, fornecedores de materiais pedagógicos e de apoio. Há também agentes da nova filantropia, institutos, fundações e outros. Sua atuação ocorre em campos tão distintos quanto a elaboração de propostas curriculares e pedagógicas, avaliação de sistemas educacionais, formação de professores e gestores, consultorias e assessorias a estados e municípios e outras atividades.

Críticas ao tratamento diferenciado concedido a organizações privadas têm reverberado no atual governo. A situação se agravou depois da notícia veiculada em jornal de grande circulação nacional de que o MEC estaria a abrir espaço para uma fundação exercer influência na decisão de recursos da ordem de bilhões na educação. O controle social sobre o desvio de finalidades no uso de recursos públicos é indispensável. 

(*) Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 11/10/23. Opinião. p.22.

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