Por
Pe. Vanderlúcio Souza (*)
Ao preparar a celebração das bodas de 25 anos de um casal muito
amado, nesta época natalina, me ocorreu na oração por eles, falar sobre a
dimensão do amor que se vive de dentro. A imagem que me vinha à mente era a de
vitrais, que mostram todo seu esplendor apenas aos que o contemplam de dentro
da instalação onde estão fixados.
O mundo que nos envolve parece nos querer sempre fora de si, à
margem de nós mesmos, dispersos com tantos afazeres, nos colocando sem tempo de
deitar um olhar demorado para dentro. Deste modo, nos perdemos buscando uma
felicidade e uma paz que está em nosso próprio interior.
De repente, estamos completamente envolvidos com planos e
desejos periféricos, nos tornamos desconhecidos de nós mesmos, ficamos à deriva
no mar da vida e condicionamos nossa vida à validação alheia.
Ninguém é feliz vivendo apenas fora de si. Ao final do dia
queremos uma casa, fechar a porta, sentir segurança. Quem viaja, por melhor e
badalado que seja o destino sente a necessidade do regresso, de estar dentro do
aconchego.
O mistério do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo revela a opção
de Deus que decidiu nos amar de dentro, mas tão próximo que se fez carne, Ele
armou sua tenda no meio de nós. O Senhor Todo-Poderoso não está mais, apenas,
nas alturas, mas se fez um de nós. O pequeno Rei veio à manjedoura do nosso
coração.
Contemplar o Pequeno Rei é volver o nosso olhar para a nossa
essência, para a originalidade com a qual o Criador nos teceu no seio materno.
A presença do Menino Deus é a luz beatíssima que banhando nosso interior
revela-nos a nós mesmo o esplendor da criação Divina presente em nosso ser.
A cena de Jesus na manjedoura atrai o olhar dos magos, dos
pastores, dos anjos e o nosso próprio. Aquela criança nos enternece, nos
questiona. Como pode Deus ter nos amado tanto a ponto de vir morar entre nós?
Esse amor desconcertante do Senhor por nós nos silencia, nos
coloca para dentro onde podemos desfrutar de uma paz impossível de se encontrar
fora. O resultado desta experiência é que saímos renovados na esperança,
desejosos de amar o Senhor e amar aqueles que Ele ama.
O encontro com o Pequeno Rei devolve o nosso olhar para as
coisas essenciais, nos faz entender que Deus é amor, que o próximo é nosso
irmão. Leva-nos a entender que somos uma missão de Deus neste mundo. Tomados de
Sua luz nos tornamos luminosos, pessoas de esperança, conscientes de que o amor,
quanto mais se vive de dentro, mais felizes nos tornamos.
O mistério do Natal se torna, assim, uma experiência
transformadora, repele a melancolia e devolve o entusiasmo. Enche-nos de
louvor, como aos magos e pastores. Tornamo-nos testemunhas felizes do Amor que
decidiu resplandecer sua Luz a partir de dentro dos nossos corações, a
manjedoura do Pequeno Rei.
(*) Jornalista e Sacerdote
recém-ordenado. Coordenador do Setor de Comunicação da Arquidiocese de
Fortaleza.
Fonte: O Povo, de 24/12/2023. Opinião. p.20.
Nenhum comentário:
Postar um comentário