quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

O PRIMEIRO DIA NO UROLOGISTA

Por Bruno Ferreira (*)

Um assunto que causa ansiedade e relutância em alguns, mas que precisa ser falado: a primeira consulta com um urologista. Muitas vezes o paciente vem com muita vergonha, medo e preconceito. Isso acontece porque o urologista é o médico que em algumas das situações precisa fazer o exame na região genital e o famigerado, o temido exame do toque.

Antes de falar sobre isso, precisamos voltar a um ponto que talvez os homens não estejam tão habituados: o diálogo. É na conversa que a consulta começa, tentando entender qual é o problema do paciente. O público é diverso: desde a faixa etária mais jovem, crianças, adolescentes, homens jovens, mulheres, homens mais velhos, até idosos.

Na infância, aquela criança que vai para uma consulta com o urologista, está com a mãe preocupada com a fimose, com a glande e precisa que o médico examine, mas a criança não está à vontade, fica envergonhada, com medo. Nos adolescentes e jovens adultos, que iniciaram as relações sexuais, normalmente buscam os médicos em decorrência do aparecimento de lesões genitais, com receio de ser um IST. Então, a conversa se torna mais uma vez a chave para esse momento. Na idade mais avançada, 50 anos, 60 anos, ou até pacientes mais idosos, a rotina de visitas ao urologista faz parte da prevenção ao câncer de próstata, situação do tão temido exame de toque.

É comum ouvir que o paciente gostaria de fazer apenas o PSA, exame de sangue, a partir daí começa um trabalho de convencimento e argumentação a fim de mostrar a relevância do exame até então indispensável. Infelizmente, em alguns casos, o esforço é em vão. É um trabalho diário, estrutural, para conversar e desmistificar isso, fazer com que o paciente fique confortável e tranquilo, trazer luz aos problemas e à resistência.

Recentemente, nós tivemos uma abordagem diferenciada através do livro da psicóloga Jaqueline Mesquita, chamado "Casal e Prostatectomia - Narrativas de Mulheres", em que ela traz a situação do homem que realiza a retirada da próstata e, infelizmente, fica impotente. O material traz a visão da mulher que acompanha o marido e relata como ficou a relação entre depois. Por isso o diálogo é a base das primeiras consultas com o urologista, para desmistificar tantos tabus, medos e preconceitos.

(*) Médico urologista e professor da Faculdade de Medicina da UFC.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 9/11/2023. Opinião. p.18.

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