Por Bruno Ferreira (*)
Um assunto que
causa ansiedade e relutância em alguns, mas que precisa ser falado: a primeira
consulta com um urologista. Muitas vezes o paciente vem com muita
vergonha, medo e preconceito. Isso acontece porque o urologista é o médico que
em algumas das situações precisa fazer o exame na região genital e o
famigerado, o temido exame do toque.
Antes de falar
sobre isso, precisamos voltar a um ponto que talvez os homens não estejam tão
habituados: o diálogo. É na conversa que a consulta começa, tentando entender
qual é o problema do paciente. O público é diverso: desde a faixa etária
mais jovem, crianças, adolescentes, homens jovens, mulheres, homens mais
velhos, até idosos.
Na infância,
aquela criança que vai para uma consulta com o urologista, está com a mãe
preocupada com a fimose, com a glande e precisa que o médico examine, mas a
criança não está à vontade, fica envergonhada, com medo. Nos adolescentes e
jovens adultos, que iniciaram as relações sexuais, normalmente buscam os médicos em decorrência do aparecimento de lesões
genitais, com receio de ser um IST. Então, a conversa se torna mais uma vez a
chave para esse momento. Na idade mais avançada, 50 anos, 60 anos, ou até
pacientes mais idosos, a rotina de visitas ao urologista faz parte da prevenção
ao câncer de próstata, situação do tão temido exame de toque.
É comum ouvir
que o paciente gostaria de fazer apenas o PSA, exame de sangue, a partir daí começa um trabalho de convencimento e argumentação a fim
de mostrar a relevância do exame até então indispensável. Infelizmente, em
alguns casos, o esforço é em vão. É um trabalho diário, estrutural, para
conversar e desmistificar isso, fazer com que o paciente fique confortável e
tranquilo, trazer luz aos problemas e à resistência.
Recentemente,
nós tivemos uma abordagem diferenciada através do livro da psicóloga Jaqueline
Mesquita, chamado "Casal e Prostatectomia - Narrativas de Mulheres",
em que ela traz a situação do homem que realiza a retirada da próstata e,
infelizmente, fica impotente. O material traz a visão da mulher que acompanha o
marido e relata como ficou a relação entre depois. Por isso o diálogo é a base das primeiras consultas com o urologista, para desmistificar
tantos tabus, medos e preconceitos.
(*) Médico urologista e professor da Faculdade de
Medicina da UFC.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 9/11/2023. Opinião. p.18.
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