Se Deus quiser e Nossa Senhora
defenda
Sufoco
pra mais de metro passou o "Poeta dos Cachorros" - nosso Jair de Moura
Moraes - na antevéspera do Natal, dia de apresentação de sua Banda Marmota nas
Tapioqueiras da Messejana. Saiu cedo de casa, na Lagoa do Opaia. Papo agradável
com o motorista do Uber sobre a diferença entre a pessoa casada e a amancebada
("o amancebado é junto sem comunhão de bens", advogava), ele acabou
esquecendo o celular no banco traseiro do carro. Cinco minutos após o
desembarque, deu fé que havia esquecido o telefone.
Pediu
ao pastorador de carros do lugar a gentileza de ligar pro número do celular
dele, na esperança de o Uber atender e, tão logo pudesse, devolver-lhe o
instrumento de comunicação móvel. Não atendeu. Lembrou então da ciumentíssima
esposa Chica Só Pode. Pediu que o pastorador fizesse mais essa ligação. Deu
certo.
-
Chica! Sou eu, mulher!
-
De quem é esse celular, Jair?
-
Deixei no Uber! Tô ligando desse aqui, dum amigo, pra pedir que tu...
-
Começou ceeeedo! Tem rapariga na jogada que eu sei! Como se eu não te
conhecesse, sujeito!
-
Chica, pelo amor de Deus! Liga e pede pro Uber me devolver que pago a corrida!
-
Jaiiiir! Parece que eu tô é vendo! Tu, sem dinheiro no motel com a fuampa
lambida, pendurou o celular pra num ser preso, e agora vem tirar a suja comigo!
-
Chica, liiiiiiga!!!
Mulher
ligou. Uber atendeu. Chica Só Pode partiu pra ignorância!
-
Onde é o motel, hein?
-
Desculpa, senhora. É o celular que um passageiro deixou no meu carro.
-
É? Pois fale aí o nome que apareceu no visor do aparelho quando eu liguei?
-
Mamãe...
Chica
subiu nas paredes. Contou até mil, esperou o Poeta religar. E religou,
cuidadoso.
-
Falou com ele, Chica?
-
Chiiiica? Aqui é "mamããããe"!
-
Oi, mãe!!!
-
Mamãe é a tua mããããe!!!
PS:
Chica pediu ao Uber que devolvesse o celular de Jair pra ela, pra vasculhar
todo conteúdo - a senha era a data de nascimento do caçula deles. Quase
passagem de ano e Jair ainda toca nas Tapioqueiras.
Contando com o ovo...
Entregador
de pizza por aplicativo, Pedim Gago era pouco cuidadoso com a higiene pessoal,
especialmente o desbaste das unhas. Freguesa atenta percebeu a arrumação, na
derradeira entrega: as da mão direita enormes. Para o bem de Pedim, ela deu um
toque.
-
Garoto, suas unhas! Grandinhas, né?
-
Ah, as da mão direita!!!
-
Sim! Carecendo duma tesoura!
Pedim
Gago, queixudo feito a gota...
-
Pois é, dona Maria! Unhas da mão direita sempre grandes porque eu toco violão.
-
Bacana! Eu tenho um Gianinni no quarto, novinho! Vou buscar pra você tocar a
"Marcha dos Marinheiros", meu Dilermano Reis!
-
Toco em serviço não, minha senhora!
-
Eu falo com seu gerente!
-
Não, não! Pra ser bem franco, eu não toco violão! Mas deixo as unhas assim,
grandes, já no ponto de tocar, quando eu aprender!
Fonte: O POVO, de 29/12/2023. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
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