sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

DEUS, amor paciente e tolerante

Por Pe. Eugênio Pacelli SJ (*)

Uma das grandes verdades que a teologia me fez enxergar no modo de proceder de Deus é sua paciência e tolerância para conosco. O amor paciente e tolerante de Deus é um tema significativo que perpassa e ressoa nas tradições religiosas. Na teologia, essa tolerância é vista como um reflexo da compaixão e da misericórdia divina, que transcendem as falhas e fragilidades humanas com um convite à proximidade, cura e reconciliação.

A ideia de que Deus é tolerante está intrinsecamente ligada à compreensão de que Ele acolhe a humanidade, apesar de suas imperfeições. Já a paciência é outra dimensão fundamental do amor e agir de Deus. Uma paciência que espera e confia no crescimento, na aprendizagem e na proximidade com Ele, na hora e no tempo certo. Faz parte do amor a arte de esperar e tolerar. A paciência e a tolerância de Deus para conosco nos constrange. Seu amor não exclui, derruba os muros que nos separam Dele e uns dos outros. Em seu coração não há muros e sim pontes!

A modernidade não é tão tolerante, com efeito, temos muita dificuldade em confrontar-nos com a diversidade. Devido à desigualdade econômica e social crescente, acrescida pela polarização política e religiosa passamos a ter medo do diferente. Tornamo-nos "tribais", isto é, temos "afinidade" para com os que se assemelham a nós e agressividade e exclusão com os que diferem de nós. A autêntica tolerância se compraz na diferença e é enriquecida por ela.

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman afirma que “a mobilidade da sociedade moderna nos instiga para grupos que pensam da mesma maneira, que desejam evadir de complexidades cheias de riscos, refugiando-se na uniformidade".

O criador não gosta de uniformidade. Ele é Plural. Em tudo o que há sua mão criadora, se vê diversidade. Podemos afirmar que a diferença na unidade faz parte do DNA cristão. A doutrina da Trindade diz respeito, precisamente, à diferença na unidade.

Em seu primeiro pronunciamento, deste ano, o Papa nos encoraja a abraçar a diversidade na Igreja e nos lembra que o dom dos diferentes carismas e a riqueza das várias tradições são um presente para a comunidade cristã e nos interpela a "não termos medo da diversidade, mas nos alegrar por vivenciá-la". A beleza e riqueza da Igreja e do mundo está na sua diversidade.

(*) Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia. Escritor. Diretor do Mosteiro dos Jesuítas de Baturité e do Polo Santo Inácio. Fundador do Movimento Amare.

Fonte: O Povo, de 13/01/2024. Opinião. p.18.

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