Por Pe. Eugênio
Pacelli SJ
(*)
Uma das grandes verdades que a teologia me fez enxergar no modo
de proceder de Deus é sua paciência e tolerância para conosco. O amor paciente
e tolerante de Deus é um tema significativo que perpassa e ressoa nas tradições
religiosas. Na teologia, essa tolerância é vista como um reflexo da compaixão e
da misericórdia divina, que transcendem as falhas e fragilidades humanas com um
convite à proximidade, cura e reconciliação.
A ideia de que Deus é tolerante está intrinsecamente ligada à
compreensão de que Ele acolhe a humanidade, apesar de suas imperfeições. Já a
paciência é outra dimensão fundamental do amor e agir de Deus. Uma paciência
que espera e confia no crescimento, na aprendizagem e na proximidade com Ele,
na hora e no tempo certo. Faz parte do amor a arte de esperar e tolerar. A
paciência e a tolerância de Deus para conosco nos constrange. Seu amor não
exclui, derruba os muros que nos separam Dele e uns dos outros. Em seu coração
não há muros e sim pontes!
A modernidade não é tão tolerante, com efeito, temos muita
dificuldade em confrontar-nos com a diversidade. Devido à desigualdade
econômica e social crescente, acrescida pela polarização política e religiosa
passamos a ter medo do diferente. Tornamo-nos "tribais", isto é,
temos "afinidade" para com os que se assemelham a nós e agressividade
e exclusão com os que diferem de nós. A autêntica tolerância se compraz na
diferença e é enriquecida por ela.
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman afirma que “a
mobilidade da sociedade moderna nos instiga para grupos que pensam da mesma
maneira, que desejam evadir de complexidades cheias de riscos, refugiando-se na
uniformidade".
O criador não gosta de uniformidade. Ele é Plural. Em tudo o que
há sua mão criadora, se vê diversidade. Podemos afirmar que a diferença na
unidade faz parte do DNA cristão. A doutrina da Trindade diz respeito,
precisamente, à diferença na unidade.
Em seu primeiro pronunciamento, deste ano, o Papa nos encoraja a
abraçar a diversidade na Igreja e nos lembra que o dom dos diferentes carismas
e a riqueza das várias tradições são um presente para a comunidade cristã e nos
interpela a "não termos medo da diversidade, mas nos alegrar por vivenciá-la".
A beleza e riqueza da Igreja e do mundo está na sua diversidade.
(*) Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia. Escritor. Diretor do
Mosteiro dos Jesuítas de Baturité e do Polo Santo Inácio. Fundador do Movimento
Amare.
Fonte: O Povo, de 13/01/2024. Opinião. p.18.
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