quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

PERDEU, MANÉ, NÃO AMOLA!

Meraldo Zisman (*)

Médico-Psicoterapeuta

A Roupa Nova do Rei é um conto de fadas de autoria do dinamarquês Hans Cristian Anderson, publicado em 1837. Começa assim: Era uma vez um bandido, fazendo-se passar por um alfaiate de terras distantes, diz a um determinado rei que poderia fazer uma roupa muito bonita e cara, mas que apenas as pessoas mais inteligentes e astutas poderiam vê-la. O rei, muito vaidoso, gostou da proposta e pediu ao bandido que fizesse uma roupa dessas para ele. O bandido recebeu vários baús cheios de riquezas, rolos de linha de ouro, seda e outros materiais raros, exigidos por ele para a confecção das roupas. Ele guardou todos os tesouros e ficou em seu tear, fingindo tecer fios invisíveis, que todas as pessoas alegavam ver, para não parecerem estúpidas. Até que um dia, o rei se cansou de esperar, e ele e seus ministros quiseram ver o progresso do "alfaiate". Quando o falso tecelão mostrou a mesa vazia, o rei exclamou: "Que lindas vestes! Você fez um trabalho magnífico!", muito embora, não visse nada além de uma mesa, pois, dizer que nada via seria admitir que não tinha a capacidade necessária para ser o rei. Os nobres ao redor soltaram falsos suspiros de admiração pelo trabalho do bandido, nenhum deles querendo que achassem que era incompetente ou incapaz. O bandido garantiu que as roupas logo estariam completas, e o rei resolveu marcar uma grande festa na capital para que ele exibisse as vestes especiais, quando descesse a rampa do seu palácio do Planalto. O leitor deve lembrar-se dessa história, da sua própria infância, sobre dois espertalhões que enganavam o rei, dizendo irem vesti-lo com um traje finíssimo? No final, o rei sai todo pomposo desfilando pela rua, e todo mundo nota que ele está nu, mas ninguém tem coragem de falar. Enquanto o protagonista desfila pela Rampa, um menino grita: "O rei está nu", e todos concluem que, se uma criança, com toda sua pureza, constatava que o monarca estava mesmo exposto em suas vergonhas, é que tudo naquele reino não passava de uma farsa. E o nosso mito majestático, desmoralizado, recolheu-se ao castelo e jamais saiu de lá até a morte. Quando ao "costureiro vigarista", deu o fora com o ouro pago e não se soube mais dele, pois foi viver em um paraíso fiscal. E por pior: todos os ministros e assessores que não ousaram admitir que não havia roupa nenhuma caíram em desgraça e demitidos. Até aí, nenhuma novidade. Mas, graças a louvável esforço de pesquisa, técnicos em Ciências Carochinhas decidiram dizer não às convenções e apresentar a versão não autorizada desse embuste, desenvolvida segundo os conceitos vigentes na sociedade e ambiente de longínquo país latino-americano. Toda desgraça teve início quando um bandido chamado Frajola gritou pelo celular: "O rei está nu! O rei está nu!" Esqueceu que, no Brasil, nós todos "estamos nus". Agora em 2022 a moral desta história toda é esta: A frase do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Roberto Barroso dita a um manifestante em Nova York, nos Estados Unidos, ao ser questionado sobre o código-fonte das urnas eletrônicas virou música. “Perdeu, mané, não amola!”, disse Barroso na última 3ª feira (15.nov.2022) ao ser abordado…

(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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