Por Pe. Eugênio
Pacelli SJ
(*)
Estamos nos aproximando da Semana Santa, quando celebramos o
grande mistério e centro de nossa fé: Paixão, morte e ressurreição de Jesus.
Diante deste evento, percebe-se que para muitos a cruz de Cristo
tem sido equivocadamente interpretada como indicativo do abandono puro e
simples de Deus ao Filho. Inclusive, a deturpação da imagem de Deus, na qual
este Deus é visto como entidade sádica e apática que precisa do sofrimento para
apaziguar o ânimo para com a humanidade pecadora.
Para melhor compreender tal questão deveríamos nos perguntar
qual o sentido que Jesus deu à sua morte. Os evangelhos apresentam a vida de
Jesus entre dois polos significativos: Galileia e Jerusalém. A Galiléia faz
referência à atividade missionaria de Jesus: O Anuncio do Reino acompanhado por
sinais e milagres, provocando assombro e admiração (Mc 127-29; 4,41).
Jerusalém faz referência à realização dessa missão no centro
político e religioso de Israel, tendo que passar pela entrega da Vida nas mãos
das autoridades judaicas e romanas chegando à Morte da Cruz.
Os textos evangélicos deixam claro que Jesus não foi
ingenuamente à morte. Ele a aceitou e assumiu livremente. Ele não a buscou.
Esta lhe foi imposta por uma conjuntura que se criara. Certamente Jesus
compreende sua morte à luz da tradição do martírio dos profetas.
Ele conhecia o destino de todos os profetas. Portanto, Jesus
contou com a possibilidade da morte violenta no contexto da missão pelo Reino e
sua relação com o Pai. Sua morte não foi alheia ao conteúdo de sua mensagem ou
o sentido da missão. Sua morte foi consequência de sua vida coerente com a
missão do Reino e a relação filial com o Pai.
Ele vive sua Paixão por Deus e pelos homens até padecer o
sofrimento e a morte na cruz. Deus pessoalmente está envolvido na história da
Paixão de Cristo, não como o " deus apático e sádico", provocador do
sofrimento.
Na comunhão da Trindade o Pai se mostra solidário, próximo e
unido ao Filho na plenitude do seu ser, isto é, do seu Amor. E a resposta do
Pai à morte injusta do Filho será a Ressurreição. A Palavra última de Deus será
sempre Vida, mesmo quando a morte parece prevalecer. Quem crê assim em Deus não
silencia diante da morte, mas proclama sempre a vitória de Deus sobre o
sofrimento, injustiça e morte. Pois: 'só um Deus que padece é capaz de se
compadecer do sofrimento de seus filhos"
(*) Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia. Escritor. Diretor do
Mosteiro dos Jesuítas de Baturité e do Polo Santo Inácio. Fundador do Movimento
Amare.
Fonte: O Povo, de 9/03/2024. Opinião. p.18.
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