quinta-feira, 28 de março de 2024

JESUS DIANTE DE SUA MORTE

Por Pe. Eugênio Pacelli SJ (*)

Estamos nos aproximando da Semana Santa, quando celebramos o grande mistério e centro de nossa fé: Paixão, morte e ressurreição de Jesus.

Diante deste evento, percebe-se que para muitos a cruz de Cristo tem sido equivocadamente interpretada como indicativo do abandono puro e simples de Deus ao Filho. Inclusive, a deturpação da imagem de Deus, na qual este Deus é visto como entidade sádica e apática que precisa do sofrimento para apaziguar o ânimo para com a humanidade pecadora.

Para melhor compreender tal questão deveríamos nos perguntar qual o sentido que Jesus deu à sua morte. Os evangelhos apresentam a vida de Jesus entre dois polos significativos: Galileia e Jerusalém. A Galiléia faz referência à atividade missionaria de Jesus: O Anuncio do Reino acompanhado por sinais e milagres, provocando assombro e admiração (Mc 127-29; 4,41).

Jerusalém faz referência à realização dessa missão no centro político e religioso de Israel, tendo que passar pela entrega da Vida nas mãos das autoridades judaicas e romanas chegando à Morte da Cruz.

Os textos evangélicos deixam claro que Jesus não foi ingenuamente à morte. Ele a aceitou e assumiu livremente. Ele não a buscou. Esta lhe foi imposta por uma conjuntura que se criara. Certamente Jesus compreende sua morte à luz da tradição do martírio dos profetas.

Ele conhecia o destino de todos os profetas. Portanto, Jesus contou com a possibilidade da morte violenta no contexto da missão pelo Reino e sua relação com o Pai. Sua morte não foi alheia ao conteúdo de sua mensagem ou o sentido da missão. Sua morte foi consequência de sua vida coerente com a missão do Reino e a relação filial com o Pai.

Ele vive sua Paixão por Deus e pelos homens até padecer o sofrimento e a morte na cruz. Deus pessoalmente está envolvido na história da Paixão de Cristo, não como o " deus apático e sádico", provocador do sofrimento.

Na comunhão da Trindade o Pai se mostra solidário, próximo e unido ao Filho na plenitude do seu ser, isto é, do seu Amor. E a resposta do Pai à morte injusta do Filho será a Ressurreição. A Palavra última de Deus será sempre Vida, mesmo quando a morte parece prevalecer. Quem crê assim em Deus não silencia diante da morte, mas proclama sempre a vitória de Deus sobre o sofrimento, injustiça e morte. Pois: 'só um Deus que padece é capaz de se compadecer do sofrimento de seus filhos"

(*) Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia. Escritor. Diretor do Mosteiro dos Jesuítas de Baturité e do Polo Santo Inácio. Fundador do Movimento Amare.

Fonte: O Povo, de 9/03/2024. Opinião. p.18.

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