terça-feira, 26 de março de 2024

QUARESMA TEMPO DE GRAÇA, TEMPO DE DEUS!

Por Pe. Reginaldo Manzotti (*)

Mais uma vez vamos viver o tempo da Quaresma, que nos prepara para celebrar a Páscoa, o mistério central da nossa fé.

Um aspecto interessante da Quaresma é a sua relação com o deserto. O deserto é um lugar simbólico na Bíblia, que representa tanto a provação quanto a revelação. No deserto, o povo de Deus experimentou o sofrimento, a tentação, a fome, a sede, a solidão, mas também a presença, a proteção, a provisão, a aliança e a libertação de Deus. No deserto, os profetas e os santos buscaram a Deus em oração, em silêncio, em contemplação, e receberam dele a Sua Palavra, a Sua vontade, a Sua missão.

A Quaresma também nos remete ao deserto da Igreja, que, como povo de Deus, caminha na história, entre as dificuldades, as perseguições, as crises, as divisões, mas também entre as graças e bênçãos.

O deserto é um lugar de dependência de Deus, lugar de provação, de silêncio, de solidão, de confronto com as nossas fraquezas e limites. Mas também é um lugar de encontro, de escuta, de purificação, do essencial, de conversão e de confiança em Deus.

No deserto, Jesus nos ensina a viver de toda Palavra que sai da boca de Deus, a não colocar Deus à prova, a não adorar outros deuses. Ele nos ensina a vencer o pecado pela força do Espírito Santo, que O conduziu ao deserto e que O sustentou em Seu ministério.

A Quaresma nos convida a seguir Jesus no deserto, a enfrentar as nossas tentações com a sua graça, a nos alimentar da sua Palavra e do seu Pão (Eucaristia), a nos deixar guiar pelo seu Espírito e a nos preparar para a sua Páscoa.

Neste tempo somos convidados a nos afastar das distrações, dos ruídos, dos apegos, das falsas seguranças, das ilusões deste mundo. É um tempo de nos voltarmos para Deus, de nos colocarmos à Sua disposição, de nos abrirmos à Sua graça, de nos deixarmos transformar pelo Seu amor.

A Quaresma é um tempo de graça, que nos faz descobrir a beleza e a riqueza do nosso interior, onde Deus habita e nos fala. Portanto, é um tempo de deserto, mas também de oásis, um tempo de provação, mas também de revelação, um tempo de morte, mas também de vida.

A Igreja nos propõe, na Quaresma, algumas práticas penitenciais, como o jejum, a esmola e a oração. Essas práticas nos ajudam a vencer as tentações, a purificar o nosso coração e a praticar a caridade. O jejum nos fortalece no domínio sobre nós mesmos, a esmola nos liberta da ganância, a oração nos aproxima de Deus.

Além dessas práticas, podemos fazer outras penitências, como evitar o que nos leva ao pecado, oferecer os nossos sofrimentos, fazer obras de misericórdia, perdoar os que nos ofendem etc. O importante é que a nossa penitência seja sincera, humilde e alegre, e que nos leve a uma maior comunhão com Deus e com os irmãos.

Especialmente nesse tempo de deserto, somos convidados a celebrar o Sacramento da Penitência, também chamado de Confissão ou Reconciliação, que é o meio que Jesus nos deixou para obter o perdão dos nossos pecados e a paz interior. É um encontro pessoal com o amor misericordioso de Deus, que nos acolhe, nos cura e nos renova.

Vivamos a Quaresma como um tempo de graça, um tempo de Deus, tempo de amor, de esperança, de alegria, de paz. Tempo de nos preparar para a Páscoa, a festa da vida da luz, e da vitória.

(*) Fundador e presidente da Associação Evangelizar é Preciso e pároco reitor do Santuário Nossa Senhora de Guadalupe, em Curitiba (PR).

Fonte: O Povo, de 24/02/2024. Opinião. p.18.


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