Por Pe.
Reginaldo
Manzotti (*)
Mais uma vez vamos viver o tempo da Quaresma, que nos prepara
para celebrar a Páscoa, o mistério central da nossa fé.
Um aspecto interessante da Quaresma é a sua relação com o
deserto. O deserto é um lugar simbólico na Bíblia, que representa tanto a
provação quanto a revelação. No deserto, o povo de Deus experimentou o
sofrimento, a tentação, a fome, a sede, a solidão, mas também a presença, a
proteção, a provisão, a aliança e a libertação de Deus. No deserto, os profetas
e os santos buscaram a Deus em oração, em silêncio, em contemplação, e
receberam dele a Sua Palavra, a Sua vontade, a Sua missão.
A Quaresma também nos remete ao deserto da Igreja, que, como
povo de Deus, caminha na história, entre as dificuldades, as perseguições, as
crises, as divisões, mas também entre as graças e bênçãos.
O deserto é um lugar de dependência de Deus, lugar de provação,
de silêncio, de solidão, de confronto com as nossas fraquezas e limites. Mas
também é um lugar de encontro, de escuta, de purificação, do essencial, de
conversão e de confiança em Deus.
No deserto, Jesus nos ensina a viver de toda Palavra que sai da
boca de Deus, a não colocar Deus à prova, a não adorar outros deuses. Ele nos
ensina a vencer o pecado pela força do Espírito Santo, que O conduziu ao
deserto e que O sustentou em Seu ministério.
A Quaresma nos convida a seguir Jesus no deserto, a enfrentar as
nossas tentações com a sua graça, a nos alimentar da sua Palavra e do seu Pão
(Eucaristia), a nos deixar guiar pelo seu Espírito e a nos preparar para a sua
Páscoa.
Neste tempo somos convidados a nos afastar das distrações, dos
ruídos, dos apegos, das falsas seguranças, das ilusões deste mundo. É um tempo
de nos voltarmos para Deus, de nos colocarmos à Sua disposição, de nos abrirmos
à Sua graça, de nos deixarmos transformar pelo Seu amor.
A Quaresma é um tempo de graça, que nos faz descobrir a beleza e
a riqueza do nosso interior, onde Deus habita e nos fala. Portanto, é um tempo
de deserto, mas também de oásis, um tempo de provação, mas também de revelação,
um tempo de morte, mas também de vida.
A Igreja nos propõe, na Quaresma, algumas práticas penitenciais,
como o jejum, a esmola e a oração. Essas práticas nos ajudam a vencer as
tentações, a purificar o nosso coração e a praticar a caridade. O jejum nos
fortalece no domínio sobre nós mesmos, a esmola nos liberta da ganância, a
oração nos aproxima de Deus.
Além dessas práticas, podemos fazer outras penitências, como
evitar o que nos leva ao pecado, oferecer os nossos sofrimentos, fazer obras de
misericórdia, perdoar os que nos ofendem etc. O importante é que a nossa
penitência seja sincera, humilde e alegre, e que nos leve a uma maior comunhão
com Deus e com os irmãos.
Especialmente nesse tempo de deserto, somos convidados a
celebrar o Sacramento da Penitência, também chamado de Confissão ou
Reconciliação, que é o meio que Jesus nos deixou para obter o perdão dos nossos
pecados e a paz interior. É um encontro pessoal com o amor misericordioso de
Deus, que nos acolhe, nos cura e nos renova.
Vivamos a Quaresma como um tempo de graça, um tempo de Deus,
tempo de amor, de esperança, de alegria, de paz. Tempo de nos preparar para a
Páscoa, a festa da vida da luz, e da vitória.
(*) Fundador e presidente da
Associação Evangelizar é Preciso e pároco reitor do Santuário Nossa Senhora de
Guadalupe, em Curitiba (PR).
Fonte: O Povo, de 24/02/2024.
Opinião. p.18.
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