quarta-feira, 3 de abril de 2024

A NATUREZA DA SANTA CASA DE FORTALEZA

Por Vladimir Spinelli Chagas (*)

Nossos últimos artigos, nesses quatro anos de participação no O POVO, têm destacado algum aspecto relativo à Santa Casa de Fortaleza, como a defasagem da Tabela SUS, agravado por mantermos os propósitos dos nossos criadores que, em 1845, idealizaram um Hospital de Caridade, com recursos de doações, efetivado em 1861.

Mantendo-se como hospital voltado aos mais carentes, sendo 95% dos assistidos via SUS, a Santa Casa nunca reduziu sequer as cirurgias de média complexidade — hoje mais de 70% dos procedimentos cirúrgicos realizados —, malgrado as diferenças entre o valor da Tabela SUS e os custos reais, que superam os 200%.

Essa abnegação se deve em muito a ter sempre contado com grandes nomes da medicina cearense e destaque em várias especialidades, além de ter sido, durante anos, a referência em oncologia, mesmo após o surgimento dos primeiros hospitais especializados. Ainda agora estamos em vias de inaugurar um moderno equipamento para a realização de radioterapia, alcançando assim, um elevado nível nesses procedimentos oncológicos.

No entanto, o percentual de 95% de pacientes SUS e a manutenção dos procedimentos de média complexidade em índices superiores a 70%, em comparação com a alta complexidade, provocam déficits mensais cada vez maiores, dificultando a sua cobertura com recursos captados nas tradicionais campanhas de doação.

Internamente, iniciamos um projeto de desenvolvimento de processos, produtos e serviços inovadores e estamos concluindo nosso Plano Econômico para então nos debruçarmos melhor sobre outras ações, como o Protocolo ASG, que nos proporcionará melhores condições de concorrer a recursos nacionais e internacionais de instituições preocupadas de fato com o ambiental e o social e da prática de boa Governança.

O caminho iniciado em março de 2023 já aponta para bons resultados, mas antes precisamos do olhar e do apoio dos entes públicos e privados, além da sociedade, para que a Santinha, como é carinhosamente chamada, rapidamente retome todo o seu papel de um hospital de acolhimento à parcela mais vulnerável da população.

(*) Professor aposentado da Uece, membro da Academia Cearense de Administração (Acad) e conselheiro do CRA-CE. Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 26/02/24. Opinião. p.16.

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