Por Sofia Lerche Vieira (*)
Recente reportagem
especial publicada pelo O POVO (14/2/2024), sob o título "Escolas
de ensino médio 'somem' em 15 municípios do Ceará na última década"
projeta luz sobre um fenômeno de interesse social histórico. Se para os menos
avisados este pode parecer um fato isolado, os que acompanham com interesse a
evolução da escola pública nas últimas décadas estão atentos à sua
significativa melhoria.
O debate sobre o público
e o privado é complexo. Requer compreensão que ultrapassa um simples escrito de
opinião. Entretanto, nos limites desta rápida aproximação ao tema, é oportuno
lembrar que, desde os remotos tempos do Brasil Colônia. a relação entre essas
duas esferas da intervenção humana tem sido perpassada por ambiguidades.
Em primeiro lugar, este
é um conceito sujeito a redimensionamentos no tempo. Quando no passado se falou
de uma história da instrução pública, cujos principais educadores eram os
jesuítas, não se levava em conta que estes, ligados à Igreja Católica, eram
agentes privados.
Em tempos mais recentes,
por sua vez, quando o próprio Censo Escolar separou escolas públicas e privadas
como dependências administrativas distintas, se ignorou que um grande
contingente de unidades privadas recebia subsídios do Estado para abrigar alunos,
cujas matrículas eram públicas. Situações como estas ainda estão presentes na
educação brasileira.
O centro da questão que ora
se coloca diz respeito a um fenômeno mais recente, antes restrito ao ensino
superior, e que agora incorpora também a educação básica — escolas de tempo
integral e com atrativos como formação profissional concomitante, atraem
expressivo contingente de alunos que antes frequentava o ensino privado.
Movimento semelhante
ocorre também na educação infantil e no ensino fundamental. Muitas cidades do
Ceará, com efeito, orgulham-se de ter uma rede única de ensino público. Fato
portador de futuro, esta valorização expressa o reconhecimento social de uma
qualidade na escola pública que vem sendo construída há décadas e coincide com
um esforço dos sucessivos governos para sua expansão e melhoria.
(*) Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e
consultora da FGV-RJ.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 26/02/24. Opinião. p.16.
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