terça-feira, 21 de maio de 2024

ONDE HÁ FUMAÇA…

Por Sofia Lerche Vieira (*)

Os ataques do bilionário Elon Musk ao ministro Alexandre de Moraes em sua rede X, ex-Twitter, têm mobilizado as atenções nacionais, gerando posições e interpretações diversas. Independentemente de sua motivação ideológica, o empresário não se manifesta apenas como arauto da liberdade de expressão e notório defensor de interesses da direita. Advoga, sobretudo, em favor de seus próprios negócios arquimilionários ao redor do mundo e do Brasil.

Embora possa não ser evidente para os que não são familiarizados com o tema, a concessão de internet para escolas brasileiras está no centro das insurgências verbais de Musk. Uma de suas empresas, a Starlink, é provedora de internet e tem contratos de alto valor no país. De olho no rico potencial de exploração desse lucrativo mercado, Musk viu suas expectativas de participação em programa federal frustradas.

Advertido por reportagem do jornal Estadão (out. 2023), o Ministério da Educação reviu sua posição anterior de limitar a participação a empresas com 50 megabits (mbps) por segundo de capacidade de exploração, em regiões sem fibra ótica, requisito que somente seria preenchido pela Starlink. Quando o jogo parecia ganho, o vasto território das escolas da Amazônia, lhe escapou por entre os dedos.

A radicalização dos pronunciamentos do megaempresário coincide com a recente apreensão de 24 antenas da Starlink pela Polícia Federal em terras yanomanis, em ação com o objetivo de coibir a exploração ilegal do garimpo nessas áreas. Coincide também com a frustração de interesses em relação à exploração de veículos elétricos, pois a Tesla, um dos mais bem sucedidos empreendimentos de Musk, também não conseguiu ainda furar o bloqueio para ingressar no mercado brasileiro.

É de se supor que esta coleção de frustrações se articule à posição política do megaempresário. Não é nada neutro ou inocente seu estardalhaço. Sinal de esperteza, ou não, cabe à sociedade brasileira monitorar interesses que possam contrariar a soberania nacional. Internet nas escolas é um deles. Se onde há fumaça, há fogo, é oportuno vigiar os passos desse cidadão em nossas paragens.

(*) Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 22/04/24. Opinião. p.16.


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