sábado, 31 de agosto de 2024

MARIO RIGATTO – vida e legado de um professor de medicina

 

Por Ana Margarida Furtado Arruda Rosemberg, médica e historiadora

Meu enleio vem de que um tapete é feito de tantos fios que não posso me resignar a seguir um fio só; meu enredamento vem de que uma história é feita de várias histórias.

Clarice Lispector - Os Desastres de Sofia (conto).

É missão das mais honrosas apresentar o livro “MARIO RIGATTO – VIDA E LEGADO DE UM PROFESSOR DE MEDICINA” de autoria da Profa. Dra. Helena Pitombeira, aqui no HEMOCE - Templo Sagrado da Medicina Cearense.

É, também, motivo de alegria e prazer tecer considerações sobre essa vultosa e relevante obra que, além de resgatar a vida e o legado de Mario Rigatto, para familiares e amigos, enriquecerá os anais da História da Medicina.

Por outro lado, é grande a responsabilidade de expor um livro de conteúdo raro, pois trata-se do memorial de um dos maiores luminares da medicina brasileira do século XX.

Rompendo o abismo e a pátina do tempo, Helena evoca o passado e nos brinda, depois de 24 anos da partida de seu amado, com uma obra primorosa revestida de uma aura que exala amor, carinho e reconhecimento do legado de Mario Rigatto.

A frase que abre livro “SAUDADE É UM ELOGIO AO PASSADO” e o texto que antecede o sumário foram retirados da “Aula da Saudade”, proferida por Rigatto no término do curso médico, da turma de 1974, da UFC, e que ensejou o espraiamento dessas aulas por todo o Brasil.

O elogio ao passado levou a autora, em parceria com sua amiga e cunhada, Helena Rigatto Kauer, a gestar esse livro, uma grande colcha de retalhos afetivos, como ressaltou sua filha Maria Helena.

Helena cerziu a colcha com textos seus e de Mario, além de tocantes depoimentos de familiares e amigos.  Depois, embelezou-a com fotos históricas de documentos e momentos mágicos da vida de Rigatto e de seus ancestrais.

O livro, impresso nas oficinas da gráfica Expressão Gráfica e Editora, com a Coordenação Editorial de Ítalo Gurgel, Projeto Gráfico/Capa de Geraldo Jesuíno e fotografias do acervo da família, é carinhosa e generosamente dedicado aos sete filhos de Mario Rigatto: Virginia, Paulo, Beatriz, Luiz, Marília, Maria Helena e Roberto.

Os Agradecimentos são dirigidos à Helena Rigatto Kauer, com quem a autora divide os méritos do livro, ao dr. Carlos Antônio Mascia Gottschall, ao jornalista Ítalo Gurgel, ao professor Geraldo Jesuíno, à Tereza Gurgel e a todos que dedicaram a Rigatto textos de profundo sentimento, no dizer de Helena.

O Prefácio de Carlos Gottschall, discípulo, amigo e companheiro de trabalho de Mario Rigatto por quatro décadas, além de amoroso, enaltece ao virtudes e as belas facetas da personalidade do amigo e engrandece suas atividades profissionais.

é um resumo da vida de Rigatto, com foco em suas atividades profissionais.

A Apresentação de Maria Helena, filha de Rigatto e Helena, fala do pai encantando plateias, lembra um pai carinhoso e atencioso com os filhos, mostra o esforço de sua mãe em selecionar fotos e organizar o livro com ajuda de sua tia Leninha e ressalta que a obra é uma visita intimista aos amigos e espaços percorridos por Rigatto.

Os Capítulos são teias que se interligam em uma dança mágica para contar a história de Rigatto, enveredando-se por outras histórias.

Como nos ensina o provérbio chinês, atribuído a Confúcio, “Uma imagem vale mais que mil palavras”, Helena recheou oito, dos dez capítulos, com imagens.

O Capítulo I, OS RIGATTOS E OS PILLMANNS DO RIO GRANDE DO SUL, evoca as raízes italianas e alemãs de Mario, reverenciando os antepassados.

O Capítulo II, INFÂNCIA FELIZ, JUVENTUDE IRREQUIETA, nos apresenta um Rigatto que, apesar de ter perdido o pai com apenas 12 anos, não perdeu a alegria de viver.

O Capítulo III, SERVIÇO MILITAR E O AMOR PELO ESPORTE, ressalta o orgulho de Rigatto em servir à pátria e a paixão pelo remo, esporte que cultuou durante toda a vida.

O Capítulo IV, IMENSA DEDICAÇÃO À FAMILIA, nos brinda com a transcrição da homenagem que Rigatto fez à sua mãe, Anna Luiza, em sua posse na Academia Nacional de Medicina, no dia 12.08.1991, e, também nos fala de sua dedicação sem limites à ampla família.

Os Capítulos V, VI, VII, VIII e IX são consagrados à vida profissional de Rigatto, como médico, professor e pesquisador. É dado um estaque especial às campanhas antifumo, que Rigatto abraçou com pioneirismo, lançando, em 1975, no Rio Grande do Sul, a primeira campanha formal de luta antitabágica no Brasil; enaltece o pesquisador que mostrou a existência de seis corações do homem e o conferencista sedutor, mestre da palavra que encantava e deleitava qualquer auditório e que proferiu 1035 conferências.

Como cientista, a produção de Rigatto foi abrangente:  430 publicações nacionais e internacionais, 82 artigos, 147 resumos, seis livros publicados, 57 capítulos de livros, 18 teses orientadas, 110 ensaios, 239 temas livres, 195 participações em congressos.

O Capítulo X, MARIO RIGATTO NÃO MORREU – DEPOIMENTOS, é composto por 33 comoventes relatos de filhos, irmãos, familiares e amigos.

Dois textos fecham o livro com “Chave de Ouro”. A homenagem que Helena presta a sua cunhada, “ODE A UMA GRANDE AMIGA, HELENA RIGATTO KAUER e a notável biografia de Rigatto, destacando a homenagem póstuma do Conselho Federal de Medicina – Comenda Mario Rigatto – Medicina e Humanidades Médicas.

O estilo da escrita de Helena remete a “teoria do iceberg” elaborada pelo afamado escritor estadunidense Ernest Hemingway (1899-1961), ganhador do Nobel da Literatura, em 1954, com seu magnífico livro “O Velho e o Mar”.

Podando seus textos, Hemingway dizia que o significado mais intenso de suas histórias está imerso, está nas entrelinhas.

Em seu livro de memórias, “Paris é uma festa”, ele explica que a parte omitida fortalece a história, comparando-a a um iceberg.

Como frisou Maria Helena na apresentação do livro “Com certeza nem tudo foi dito aqui. Esta obra não tem a pretensão de ser completa, mas sim de ser sincera, traduzindo através de seus textos e imagens o amor que Mario Rigatto espalhou.”

O livro de Helena, de uma elegância ímpar, ostenta em sua capa azul marinho uma foto icônica de Mario Rigatto, com sua emblemática gravata borboleta, adornada com sua artística assinatura.

Na quarta capa, o romântico texto de Rigatto:

“De acordo com o poeta, a sede do amor é o coração. Alguns anos depois de eu me haver dedicado ao estudo do pulmão, partindo de uma formação de cardiologista, comecei a ter serias dúvidas sobre a legitimidade dessa localização do amor. Afinal de contas, o que pode o amor fazer ao coração? Acelerar-lhe um pouco a frequência? Por outro lado, o pulmão tem muito a ver com a nossa vida afetiva. Pois não é com o pulmão que nós rimos? Não é com o pulmão que choramos? Não é o pulmão que soluça? Não é do pulmão que partem todas as interjeições afetivas, de onde nascem todos os ais de amor? E aos meus relutantes companheiros cardiologistas, tenho ponderado: o que pode uma discreta taquicardia sinusal comparada à respiração arfante de uma mulher apaixonada?”

Obrigada pela atenção!

(*) Discurso de apresentação do livro “Mario Rigatto – vida e legado de um professor de medicina”, de autoria da Profa. Dra. Helena Pitombeira, pronunciado por Ana Margarida Furtado Arruda Rosemberg no Auditório do Hemoce, em Fortaleza, em 30 de agosto de 2024.


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