sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Crônica: “Para acriançar o pensamento” ... e outro causo

Para acriançar o pensamento

Traumática a separação do Dedé e da Mocinha. Chifre, o motivo. Já haviam falado pra ele que ela tivera uns chamegos com um bonitão das tapiocas de nome João Macaúba, 15 anos atrás, bem antes de os dois se conhecerem, mas nada tão comprometedor. Porém, as viagens constantes de Dedé pro Maranhão (representante de amortecedor), a solidão de uma Mocinha novona ainda, "ribuculosa" que era, a companhia da ispilicute Chica Loura, as novelas inspiradoras... Não deu outra.

- Cá pra nós, Mocinha! Tu merece coisa melhor! Carece ser frequentada, antes que adoeça do juízo - dava corda a Chica amigona.

- Que fazer, então? - Mocinha indecisa.

- João Macaúba se separou-se da Galega. Tenho o celular dele...

- Quando tu tiver sem fazer nada, me passe o número daquele doido.

- Agora!

E João, "fino raparigueiro", tá na área já. Mocinha sozinha em casa, marido no mundo. Porta de casa deixada aberta deliberadamente. Já quase amanhecendo o dia, quem adentra à alcova de Mocinha e do Dedé viajante? Claro, ele: João Macaúba. Os dois abufelados agora. E quem, súbito, chega sem nada dizer, como a fazer boa surpresa à mulher? Claro, ele: Dedé. Susto grande o do representante comercial ao se deparar com a cena.

Por estar a cidade demais quente naqueles dias, o ventilador ligado no três nos pés do casal in love é algo marcante. Dedé gritou aturdido, dirigindo-se a João, enrolado em lençol curto: "Caba safado, corra daqui! E leve ela com você" Pra mulher...

- Tu, Mocinha, se vista e acompanhe esse rabo de burro! Bem cedo eu irei ao juiz acertar a separação. Na volta passo aqui pra pegar a única coisa que me interessa levar comigo!

Triste, sofrido, enganado, Dedé diante do juiz acerta detalhes do divórcio. Chegada a hora da partilha dos bens, a novidade.

- Doutor, deixo pra Mocinha televisão, geladeira, rádio, liquidificador, faqueiro... Só um item eu faço questão de levar comigo!

- Entendo, amigo! A moto, né?

- Não!

- Ah! A bicicleta!

- Também não!

- Sei! A radiola, o celular, o air fryer...

- De jeito nenhum!

- O que então o senhor não deixará pra Mocinha?

- O ventilador...

- Ventilador!!!

- Pra não dar aos dois o gostinho do ventinho bom nos pés, que nem eu vi há pouco!

Trocando de casa

Faray, descendente de sírio, era o grande amigo do saudoso Júlio César. Ocorre que Joel, pai do nosso Julhão, até então não conhecera o moço de nome diferente, "lá dos oriente". O velho, certa noite chegando em casa com umas quatro ou cinco na cabeça, visivelmente truviscado, encontra o filhão (mais que nunca lacônico) de saída, apressado e brabo por ver o genitor naquele estado alegre. Papo breve entre os dois:

- Pra onde é que tu vai, Júlio?

- Pra cada do Faray!!!

A mãe do Júlio César aparece minutos depois do episódio e pergunta a Joel do filho, se tinha visto Júlio César, se ele estava bem.

- Acho que não! Saiu dizendo que ia pra casa do car...

Fonte: O POVO, de 6/09/2024. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.


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