Para acriançar o pensamento
Traumática
a separação do Dedé e da Mocinha. Chifre, o motivo. Já haviam falado pra ele
que ela tivera uns chamegos com um bonitão das tapiocas de nome João Macaúba,
15 anos atrás, bem antes de os dois se conhecerem, mas nada tão comprometedor.
Porém, as viagens constantes de Dedé pro Maranhão (representante de
amortecedor), a solidão de uma Mocinha novona ainda, "ribuculosa" que
era, a companhia da ispilicute Chica Loura, as novelas inspiradoras... Não deu
outra.
-
Cá pra nós, Mocinha! Tu merece coisa melhor! Carece ser frequentada, antes que
adoeça do juízo - dava corda a Chica amigona.
-
Que fazer, então? - Mocinha indecisa.
-
João Macaúba se separou-se da Galega. Tenho o celular dele...
-
Quando tu tiver sem fazer nada, me passe o número daquele doido.
-
Agora!
E
João, "fino raparigueiro", tá na área já. Mocinha sozinha em casa,
marido no mundo. Porta de casa deixada aberta deliberadamente. Já quase
amanhecendo o dia, quem adentra à alcova de Mocinha e do Dedé viajante? Claro,
ele: João Macaúba. Os dois abufelados agora. E quem, súbito, chega sem nada
dizer, como a fazer boa surpresa à mulher? Claro, ele: Dedé. Susto grande o do
representante comercial ao se deparar com a cena.
Por
estar a cidade demais quente naqueles dias, o ventilador ligado no três nos pés
do casal in love é algo marcante. Dedé gritou aturdido, dirigindo-se a João,
enrolado em lençol curto: "Caba safado, corra daqui! E leve ela com
você" Pra mulher...
-
Tu, Mocinha, se vista e acompanhe esse rabo de burro! Bem cedo eu irei ao juiz
acertar a separação. Na volta passo aqui pra pegar a única coisa que me
interessa levar comigo!
Triste,
sofrido, enganado, Dedé diante do juiz acerta detalhes do divórcio. Chegada a
hora da partilha dos bens, a novidade.
-
Doutor, deixo pra Mocinha televisão, geladeira, rádio, liquidificador,
faqueiro... Só um item eu faço questão de levar comigo!
-
Entendo, amigo! A moto, né?
-
Não!
-
Ah! A bicicleta!
-
Também não!
-
Sei! A radiola, o celular, o air fryer...
-
De jeito nenhum!
-
O que então o senhor não deixará pra Mocinha?
-
O ventilador...
-
Ventilador!!!
-
Pra não dar aos dois o gostinho do ventinho bom nos pés, que nem eu vi há
pouco!
Trocando de casa
Faray,
descendente de sírio, era o grande amigo do saudoso Júlio César. Ocorre que
Joel, pai do nosso Julhão, até então não conhecera o moço de nome diferente,
"lá dos oriente". O velho, certa noite chegando em casa com umas
quatro ou cinco na cabeça, visivelmente truviscado, encontra o filhão (mais que
nunca lacônico) de saída, apressado e brabo por ver o genitor naquele estado
alegre. Papo breve entre os dois:
-
Pra onde é que tu vai, Júlio?
-
Pra cada do Faray!!!
A
mãe do Júlio César aparece minutos depois do episódio e pergunta a Joel do
filho, se tinha visto Júlio César, se ele estava bem.
-
Acho que não! Saiu dizendo que ia pra casa do car...
Fonte: O POVO, de 6/09/2024. Coluna
“Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
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