Mais da metade da população mundial vive nas cidades e grande parte está submetida à tragédia da desigualdade, da exclusão, dos desastres climáticos, da violência e do desemprego. As cidades são símbolos exemplares das assimetrias do sistema-mundo capitalista.
Em 2017, o urbanista estadunidense Richard Florida no seu livro
Crise urbana: como nossas cidades estão aumentando a desigualdade, aprofundando
a segregação e falhando com a classe média e o que podemos fazer a respeito,
observa que um índice revelador dessas disparidades é o número de horas que
levaria um trabalhador médio, em cidades ao redor do mundo, para pagar por um
iPhone, objeto paradigmático da economia do conhecimento. Em 2015, na cidade de
Nova York, esse trabalhador levaria apenas 24 horas para ganhar dinheiro
suficiente que lhe permitisse efetuar a compra, contra 350 horas em Mumbai, 460
horas em Jacarta, e mais de 600 horas em Kiev. Impossível não observar que a
globalização, responsável pela criação de centralidades e periferias, é
especialmente cruel na ampliação do fosso entre cidades ricas e pobres,
descolando a produção econômica e o consumo do território e do desenvolvimento
local. Esse quadro expressa a face sombria das cidades, seja por meio dos
incessantes e dramáticos fluxos migratórios, seja pelo crescimento exponencial
de doenças, seja pelas constantes ameaças à vida, face aos acidentes
ambientais.
Causa indignação observar que parte expressiva dos governantes
municipais produz intervenções urbanas desconexas do desenvolvimento
sustentável das cidades, sobretudo, na superação da pobreza. No caso
brasileiro, não são exceções os prefeitos e prefeitas que privilegiam
intervenções cosméticas, em áreas turísticas, em detrimento da criação de
infraestrutura básica, sobretudo, nos bairros de periferia, cada vez mais
perigosos e inabitáveis. Expansão não significa desenvolvimento. É o caso de
Fortaleza, que hoje é a quarta maior cidade do Brasil. O que isso significa?
Uma boa pergunta a ser respondida pelos atuais candidatos às eleições
municipais.
(*) Cientista Social. Professora da Uece. Sócia da Tempos de Hermes
Espaço Criativo.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 30/09/24. Opinião. p.18.
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