Por
Vladimir Spinelli Chagas (*)
Em alguns momentos, neste espaço, falamos
sobre questões como tolerância, qualidade que vimos negligenciando há muito
tempo, parecendo agravar-se constantemente.
Digo isso com tristeza, pois vejo um mundo
que parece se tornar menos humano a cada dia, aumentando a insensibilidade e a
dependência de bens não essenciais e de comportamentos que não condizem com os
ensinamentos que recebemos das religiões: os do amor ao próximo.
É fato que também proliferam, com menos
barulho, ações de abnegados que buscam aliviar o sofrimento de tantos que não
têm o suficiente em alimentos, saúde, segurança e moradia, o mínimo que uma
criatura humana merece ter.
O que mais deveria chocar a cada um de nós
é que as riquezas materiais estão crescendo em uma espiral perversa e sendo
acumuladas por um número sempre menor de pessoas que desfrutam dos mesmos
direitos, mas podem pagar por eles.
Segundo estudo do Comitê de Oxford para
Alívio da Fome (Oxfam), a fortuna dos cinco homens mais ricos do mundo passou
de 405 bilhões de dólares, em 2020, para 869 bilhões de dólares, em 2023.
São fortunas crescentes, mas estáticas,
isto é, não circulam em benefício de todos. E os bilionários controlam cada vez
mais empresas, pressionam os governos para redução de impostos e os empregados
para maiores esforços, e emitem tanta poluição de carbono quanto os dois terços
mais pobres.
O que fazer? Da parte dos mais pobres,
altivez na defesa dos seus direitos, mesmo enfrentando situações desiguais.
Nós, de um patamar um pouco acima, a consciência dessas diferenças e a busca de
a elas fazermos frente.
Já os afortunados poderiam dispor de uma
pequena parcela de suas fortunas em apoios a projetos sociais, o não lhes faria
qualquer diferença. Afinal, ainda conforme a Oxfam, se cada um dos cinco homens
mais ricos do mundo gastasse um milhão de dólares por dia, seriam 476 anos para
esgotar suas fortunas, enquanto, no ritmo atual, levaríamos 230 anos para
erradicar a pobreza.
Pensar apenas, não resolve. Mas agir como
aquele pequeno pássaro que atacava um incêndio com as gotas de água que podia
levar no bico, ajuda, sim.
(*) Professor aposentado
da Uece, membro da Academia Cearense de Administração (Acad) e conselheiro do
CRA-CE. Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 27/01/25. Opinião. p.20.
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