Por Heitor
Férrer (*)
Desde que me entendo por gente, o Brasil
tem três poderes bem definidos: o Executivo, que executa; o Legislativo, que
legisla e o Judiciário, que julga. A Constituição é claríssima quanto às
competências de cada um. No entanto, a prática das emendas parlamentares tem
distorcido os limites dessas competências.
As emendas parlamentares desvirtuam a
função do Parlamento.
O Legislativo não foi criado para executar
obras, mas para fazer leis, fiscalizar o Executivo e intermediar soluções para
os problemas da sociedade.
Quando deputados e senadores trazem para si
a função de direcionar bilhões do orçamento federal sem responsabilidade direta
sobre a execução, legalidade ou eficiência desses recursos temos uma séria
distorção institucional.
Hoje, de R$ 200 bilhões disponíveis para investimentos
públicos, cerca de R$ 59 bilhões são controlados pelo Congresso por meio de
emendas parlamentares.
Um poder que deveria apenas aprovar o
orçamento passa a influenciar diretamente sua execução, sem assumir a
responsabilidade que cabe ao Executivo.
É legítimo que parlamentares apresentem
emendas para beneficiar suas regiões.
Mas isso deve ser feito com transparência, dentro
do próprio orçamento, que deva ser impositivo e justo, onde todos tenham acesso
igualitário, sem barganhas ou favores, sem que esse orçamento, a bel prazer do
humor do presidente da república, premie aliados e prejudique adversários.
Inaceitável qualquer uso de dinheiro
público sem transparência, onde parlamentares não respondem legalmente pela
execução das obras que indicam, ferindo os princípios constitucionais da
legalidade, impessoalidade, moralidade e eficiência.
A transparência, que deveria ser regra,
vira exceção. Tanto é que o Supremo Tribunal Federal vem exigindo mais clareza
sobre quem manda e para onde vai os recursos dessas "emendas".
O Brasil precisa resgatar o respeito às
funções constitucionais de cada poder. Do contrário, seguiremos com um
Legislativo excessivamente forte onde deveria ser limitado e ausente e fraco
onde deveria ser protagonista.
(*) Médico
e deputado estadual (Solidariedade).
Fonte: Publicado In: O Povo, de 4/04/2025. Opinião. p.19.
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