Por Izabel Gurgel (*)
Vai ter Cantata de Natal na praça central
de Icapuí na noite de 25 de dezembro. Os ensaios acontecem na Casa de Cultura
Cores da Vida. Ensaios e casa aos cuidados dos irmãos Josilene e Dedé de Zé de
Liliza, cujo nome, como o Natal, celebra um nascimento e uma filiação.
Francisco José de Freitas é o Dedé, filho de Zé, por sua vez filho de Liliza. A
Casa de Cultura é invenção do carpinteiro naval, cada canto criado e construído
por ele. Incorporada ao chão e céu icapuienses, até parece que sempre esteva lá,
mas tem só três anos. Inaugurada a 5 de novembro de 2023, é um novo mar na
cidade.
A primeira vez da Cantata de Natal, a
Árvore de Jesus, foi em 2017. A estrutura de madeira em forma de árvore
natalina foi montada nos anos seguintes, 2018 e 2019. Retomada em 2023 na rua
da Casa de Cultura, agora volta para a praça. Conta-se, canta-se o nascimento
do Menino Deus. Tem pastoril, a visitação ao recém-nascido. Tem encenação da
natividade, com a busca de Maria e José por um pouso. Em 2024, Josi fez a dona
da estalagem que mostra a estrebaria ao casal. Bento, o nome do bebê que fez
Jesus. Procura-se um novo bebê para 2025.
Ativar práticas da alegria, como o
Pastoril, é do tutano da Casa. Cutuco Josi sobre autos de Natal. Ela cita de
memória um que conheceu criança, 'na rua de trás da casa da minha mãe'. Cita
Mirian de Lula, que fazia teatro com Dedé no salão paroquial. Depois da nossa
conversa por telefone, Josi envia por zap: "O Pastoril muito falado era do
pai da Mirian, que se chamava Lula... O nome era Pastoril Cruzeirista. Mirian
brincou nos pastoris até seus 19 anos. Aos 20 anos, casou-se e parou de
brincar... Mirian já brincou sendo Pastorinha, Mestra, Contra-Mestra e Diana.
Ela falou o nome de algumas Pastorinhas: Teté de Antônio de Jorge, Nina, Alba.
Também era falado o Pastoril de João Sabino...". João Sabino é o nome
estampado no salão da Casa, onde acontece o Forró de João Sabino, homenagem ao
pescador e salineiro que, usando radiola, fazia da moradia um salão de dança.
Josi continua: "Mirian recorda também
do Pastoril de João Paulino, o Pastoril Serranista. Foi ela que ensinou todas
as músicas, passos e danças. E o Pastoril de Nenê Pedro Amanso, que ficava no
local que se chamava Furna da Onça, porque as casas eram do lado do sol, muito
quentes. Furna da Onça também era o nome do bar, naquela rua, da Socorro de
Iracema, falecida". No centro de Icapuí, a área é conhecida também como
pé-da-serra.
A Casa de Cultura Cores da Vida tem um
subtítulo: Memorial José, Leny e amigos. José e Leny são pai e mãe de Josi,
Dedé e Fátima, que faleceu. E amigos é a bem dizer um litoral, do sempre vasto
e diverso mar, a ir e vir. Não sem mortes, dilacerações. Daí a boniteza maior
da Casa, desejada e feita para ser um lugar de nascer, a cada dia, todo dia.
Seu Dedé é um ourives. A Casa de Cultura em
Icapuí é uma joia do Ceará.
(*) Jornalista de O Povo.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 9/11/25. Vida & Arte, p.2.
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