POLÍTICA E... CHOCOLATE
Alfredo Pujol - Machado de Assis, pág. 20
Era José de Alencar ainda criança, quando se reuniam secretamente na casa de seu pai, no Rio, os políticos do Clube Maiorista, que preparava a revolução parlamentar da maioridade. Logo que chegavam os altos personagens da conspiração, era um reboliço em toda a casa para o arranjo do chocolate, com bolinhos e manuês. Vendo dali a pouco voltarem da sala secreta as mucamas com as enormes bandejas devastadas, o futuro romancista, desconfiado, comentava:
- Qual! Estes homens o que querem é chocolate!...
As VANTAGENS DA VITALICIEDADE
Taunay - Reminiscências, vol. I, pág. 25
Vitalícios como eram, os senadores do Império acabavam necessariamente amigos, quase parentes, ao fim de dez, vinte, trinta anos de intimidade. As divergências políticas não conseguiam estabelecer inimizades duradouras entre os velhos representantes do povo.
Às vezes, as discussões azedavam-se, tornavam-se violentas. No meio, porém, do tumulto, ouvia-se a palavra irônica de Cotegipe, reclamando calma, com uma antiga frase de Montesuma:
- Nada de brigas! Nada de brigas! Lembremo-nos que temos de viver juntos toda a vida!
AS FRASES DE PATROCÍNIO
Coelho Neto - Discurso na Academia Brasileira de Letras
Começava Patrocínio a ser hostilizado pelos propagandistas da República, que o acusavam de haver abandonado as suas fileiras, lisonjeado pelo beijo que a Princesa dera no seu filho pequeno, quando, num "meeting", o grande abolicionista tentou falar.
- O Brasil... - ia começando, quando se deteve.
Atribuindo aquela pausa a um estado de decadência, a multidão começou a rir. Patrocínio olhou-a, do alto, e continuou:
- O Brasil... que somos nós?
Silêncio absoluto.
- Sim; que somos nós? - tornou.
E formidável:
- Somos um povo que ri, quando devia chorar!
A "ESCADA" DE LAFAIETE
Alfredo Pujol - Discurso na Academia Brasileira de Letras
A ascensão de Lafaiete à pasta da Justiça, no gabinete de 5 de janeiro de 1878, havia irritado os políticos profissionais, que não compreendiam a escolha fora dos partidos. Tornando-se eco do despeito geral, Martinho de Campos, exclamou, certo dia, num aparte, na Câmara.
- Eu só queria saber de que meios V. Excia. se serviu para subir tão depressa aos conselhos da coroa!
- Eu? - fez Lafaiete, a mão no peito.
E com orgulho:
- Subi montado em dois livrinhos de Direito!
O "BAILE DE MÂSCARAS"
Aluísio de Castro - Discurso na Academia Brasileira de Letras, 1918
Em um encontro na Livraria Garnier, apresentara Francisco de Castro o seu filho Aluísio, ainda estudante, a Machado de Assis. Vendo quase homem aquele que vira recém-nascido, Machado sentenciou, triste:
- A vida é um baile de máscaras; uns vão saindo depois dos outros.
E com voz meio gaguejada:
- Já me sinto no fim do baile...
OS SAPATOS VERMELHOS
Osvaldo Cruz - Discurso na Academia Brasileira de Letras, 1913
O temor de lavrar uma sentença injusta, fizera de Raimundo Correia um tímido, um irresoluto, diante das menores coisas da vida. Saltara ele em uma estação da Central rumo de Minas, a fim de comprar um par de sapatos para uma das filhas, quando se pôs a conjeturar:
- Deve ser azul... É melhor... é cor do céu... as moças gostam mais do azul...
E pegando em outro:
- Ou vermelho?... É a cor da alegria... do sangue... da mocidade...
O trem apitou.
- Vai o azul. Embrulhe o azul!
Correu a tomar o carro, que já se punha em marcha. E já da janela do vagão, agitando um embrulho, para uns amigos que o tinham ido abraçar na passagem:
- Antes tivesse trazido os vermelhos!...
A CORAGEM DO ALMIRANTE
Augusto de Lima - Discurso na Academia Brasileira de Letras, 1923
Comandava Saldanha da Gama uma das unidades da nossa esquadra quando, um dia, mandou aplicar algumas dezenas de chibatadas em um grumete de catadura feroz, o mais indisciplinado, talvez, do navio. Ao sofrer a pena, o marujo, com o corpo lanhado, sangrando e babando, jurou que, na primeira oportunidade, se vingaria do comandante, vibrando-lhe quatro punhaladas.
Saldanha mandou-o vir imediatamente à sua presença, no seu camarote. O marujo apresentou-se.
- Entra! Ordenou-lhe.
- Às ordens, "seu" comandante.
Saldanha fechou a porta por dentro, ficando aí apenas os dois.
- Faze-me a barba, - mandou, sentando-se, e indicando-lhe a navalha.
O marinheiro obedeceu. Mas de tal forma lhe tremia a mão, que estacou.
- Então?! - fez o comandante, reclamando.
E o grumete:
- Não posso mais, "seu" comandante... Tenho medo de "amolestá vossenhoria"!
E caiu de joelhos, em pranto, beijando-lhe as mãos.
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927)
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