domingo, 12 de julho de 2009

A PRIMEIRA ESCOLA DE ENFERMAGEM NO CEARÁ

O ensino de Enfermagem no Ceará começou, formalmente, em 1943, portanto, há mais de sessenta anos, com a implantação da Escola de Enfermagem S. Vicente de Paulo, que posteriormente viria agregar-se a outras faculdades (Administração, Filosofia, Serviço Social, Veterinária etc.), para dar substrato à criação da Universidade Estadual do Ceará (UECE), em 1975.
Essa Escola nasceu abençoada, fruto da iniciativa da Arquidiocese da Fortaleza, por decisão e empenho de sua eminência, o Arcebispo Dom Antônio de Almeida Lustosa, homem determinado e empreendedor, e bastante afeito ao trabalho; Dom Antônio Lustosa, segundo o historiador Dr. Vinícius Barros Leal, era um discípulo do mestre – manso e humilde, um salesiano de origem, que imprimiu uma robusta obra social em prol das camadas sociais mais desfavorecidas, sem se descuidar dos aspectos espirituais do seu rebanho.
Apesar dos tempos de beligerância mundial em que se vivia, afetando inclusive a urbe fortalezense, submissa ao apagão e à vigilância costeira, com o movimento de militares norte-americanos e mobilização de brasileiros, Dom Lustosa soube se cercar de médicos, profundamente identificados com os princípios católicos e com as práticas cristãs, para compor o corpo docente inicial daqueles primeiros anos, bem como lançou mão de religiosas, pertencentes à Ordem das Filhas da Caridade, e atuantes nos hospitais locais, que, na época, eram quase todos vinculados à Igreja Católica.
Dentre os docentes dos primeiros anos de funcionamento do curso, constavam médicos da maior expressividade, como Jurandir Picanço, Waldemar Alcântara, Walter Cantídio, Ocelo Pinheiro e Haroldo Juaçaba, que figuraram entre os fundadores da Faculdade de Medicina do Ceará, entidade nascida privada e depois encampada pelo governo federal.
A presença das Irmãs de Caridade e de integrantes da Sociedade Médica São Lucas, associada ao seu patronímico S. Vicente de Paulo, um santo moderno e símbolo da caridade, põem a mostra um desabrochar institucional marcadamente caritativo, contudo sem desprezar o apuro técnico dos seus profissionais formados.
A criação da Escola de Enfermagem S. Vicente de Paulo contribuiu para a formação local, e em um bom número, de um profissional até então escasso, pois dantes eram, quase invariavelmente, enfermeiras graduadas pela Escola Anna Nery, nome que é uma justa homenagem àquela cognominada “A Mãe dos Brasileiros”; além disso, mesmo contando com a sua natureza religiosa, essa escola concorreu para a laicização profissional, mediante as sucessivas turmas por ela formadas e postas a serviço da comunidade, despojando-as do hábito sacro, mas preservando o hábito da solidariedade e da fraternidade humanas, tão presentes no ato de cuidar.
Não restam dúvidas de que o ensino de Enfermagem no Ceará surgiu sob as graças benfazejas de uma entidade-mater, que deu a luz, no sentido exato da parição, a uma legião de enfermeiras vocacionadas para cuidar, ao mesmo tempo em que serviu de luz, feito farol a alumiar as trilhas propiciadoras da constituição das estruturas formadoras subseqüentes, instaladas nas universidades (Unifor, UFC, UVA, URCA) e, por desdobramento, nas montadas em outros estabelecimentos de ensino superior cearense.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva

* Publicado In: Revista do COREN-CE, 5 (16): 24, 2006. (Informativo do Conselho Regional de Enfermagem -Ceará).

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