Sempre reverenciei as três. A primeira pois dela provindo; as outras, por ter-me casado com a segunda, mantendo a terceira por amante. Em verdade vos digo: Eva foi e é a véspera de todos nós. Formam a minha eterna trindade, parafraseando um ex-estudante de Medicina, o poeta inglês John Keats.
No Novo Testamento já havia três mulheres: Maria de Betânia, irmã de Lazaro; Maria de Magdala, ou Madalena, esta amando Jesus vivo, morto e ressuscitado, e aquela que lhes perfumou os pés.
Creio ter sido do poeta Pablo Neruda a advertência: “no hacieras a la mujer ni con il pétalo de una rosa”. São Paulo, falando aos corintios, afirmou: “A mulher é a glória do homem”. E digo: são, os nossos alfa e ômega.
Aliás, a mulher teve um parto gemelar (gêmeos) ao parir Literatura e Medicina; com a palavra o poeta Homero, primeiríssimo a descrever ferimentos, na “Ilíada” (tradução de Haroldo de Campos, SP: Ed. Mandarin, 2002), e na “Odisseia”.
Assim, sempre fui feminista, deplorando os que lhe chamam “rapaz”, como se feitas fossem à sua truculenta, coronolesca semelhança. Os franceses reconhecem em tudo sua presença: “cherchez la femme”. Isto desde o nariz de Cleopatra ter mudado o destino do mundo.
O primeiro enfermeiro foi Fabiola, em Roma. A primeira escola médica europeia surgiu em Salerno, no século X, e no milênio seguinte, sua figura solar também foi feminina: Trotula. O “Regimen Sanitatis Salernitanum” continha 842 versos para os médicos decorarem. Daí, ser velha a Literatura!
Madame Curie (Varsóvia, 1867 – França, 1934 por leucemia) pesquisadora original da radioatividade, recebeu dois prêmios Nobel: Física, e Química. Nos Estados Unidos, Helen Taussig pesquisou a talidomida, e, com Alfred Blalock, bolou a operação para o “bebê azul” (1944), malformação congênita obstrutora da circulação sanguínea para o coração. As flechas de Cupido também tangeram o carro da Medicina, pois as luvas cirúrgicas foram mandadas confeccionar pelo cirurgião americano William Halsted, para sua enfermeira e depois esposa Caroline Hampton.
Com “Iracema”, José de Alencar criou o gênero romance no Brasil. A propósito, lembramos que a Unimed Fortaleza – no afã de aumentar a frequentação da ficção literária pelos médicos – oferecerá, nos dias 22, 24 e 26 próximos (com prioridade no Norte e Nordeste), um curso homônimo, com esse salutar objetivo, e na Academia Cearense de Letras (a mais antiga do Brasil) a professora doutora Ângela Gultierrez, abrirá o Ciclo de Conferências/2011, no dia 23 de agosto, com a programação estendendo-se até 22 de novembro deste ano.
Aliás, já dizia Castro Alves: “Livros, livros à mancheia, e manda o povo pensar”.
Pedro Henrique Saraiva Leão
Médico e presidente da Academia Cearense de Letras
pedrohenrique.leao@unimedfortaleza.com.br
Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião,17.08.2011
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