segunda-feira, 26 de setembro de 2011

ESTE ALMOÇO NÃO SAI DE GRAÇA

Por Ricardo Alcântara (*)
A imprensa divulgou declarações dos empresários cearenses Roberto Macedo e Fernando Cirino, atual e ex presidente da Federação das Indústrias do Ceará, simpáticas a uma iniciativa da presidente Dilma Rousseff.
O elogio era pontual, referindo-se especificamente à boa disposição da presidente para desmontar alguns dos esquemas de corrupção instalados no seu governo depois de fartamente denunciados pela imprensa.
Como temos aí a boa notícia de que a sociedade se encontra acompanhada de líderes empresariais influentes na sua luta em favor da ética na vida pública, ouso sugerir a eles uma forma mais efetiva de colaboração.
Já que se mostra tão interessada em banhar o setor público nas águas transparentes da ética, a classe produtora bem que poderia se mobilizar em favor de um projeto que tramita com dificuldades no congresso nacional.
Trata-se da proposta de instituir no país o financiamento público das campanhas eleitorais, eximindo o setor privado dos encargos desse grande “investimento” e dando aos partidos condições mais paritárias de disputa.
Uma dos fatores que torna generalizada a prática da corrupção no país é que as campanhas eleitorais são financiadas pelos empresários. Quem se elege – é claro! – fica de rabo preso com as empresas que o ajudaram.
Como pode um político votar, por exemplo, pela proibição de propaganda de bebidas alcoólicas se ele recebeu dinheiro de um fabricante de cerveja para conquistar os votos que deram a ele o direito de votar questões como aquela?
Além de permitir que todos os partidos disputem eleições em condições materiais semelhantes, o financiamento público reduziria a influência do poder econômico sobre os eleitos. É solução definitiva? Nenhuma é.
Mas é óbvio demais que, no Brasil, o poder de pressão do setor empresarial, legítimo em si mesmo, excede em muito ao que seria uma medida sustentável para um sistema eficiente de representação política.
A luta em favor da medida seria uma grande contribuição que os líderes empresariais poderiam dar ao país – efetivamente mais eficaz, com certeza, do que declarações que desqualificam a classe política brasileira.
O derrame da corrupção é um sistema de duas válvulas: antes que o corrupto coloque em movimento suas manobras, outro mecanismo, mais poderoso, é acionado: as tentadoras oferendas dos corruptores. 
Os corruptos estão fartamente denunciados: são os políticos. O instituto da imunidade parlamentar os têm poupado de responder pelos seus atos. Já os corruptores, prescindem de uma lei que os proteja: o dinheiro resolve isso.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.

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