VÃO DISCUTINDO...
Tobias Monteiro - Pesquisas e depoimentos", pág. 114.
Espalhada a notícia dos acontecimentos de 10 de abril de 1892, os políticos começaram a correr para o Itamaratí oferecendo os seus serviços. De repente, soube-se que o estado de sítio fora decretado, e que o Marechal ordenara a prisão de diversos congressistas.
Esta última notícia alarmou os próprios amigos do ditador, alguns dos quais comentavam o caso em um dos corredores da residência presidencial, quando Floriano passou por eles e indagou:
- Que é que vocês conversam?
Um deles, mais íntimo, disse a verdade. Achavam a medida violenta e perigosa.
- Bom, - fez Floriano, ciente do assunto.
E afastando-se:
- Vão discutindo que eu vou mandando prender.
UMA INJÚRIA
Osvaldo Cruz - Discurso de recepção na Academia Brasileira de Letras, 1913.
Era Raimundo Correia promotor público em São João da Barra, quando um chefe político o procurou, pedindo-lhe uma palavra em particular. Atendido, este explicou-lhe, nervoso:
- Contaram-me, doutor, uma coisa muito grave a seu respeito, mas eu confesso-lhe que não acreditei. Para tranqüilidade minha, porém, venho contar-lhe o que se anda dizendo por aí do senhor.
- Andam dizendo que o senhor é poeta!
- É falso! É falso! - protestou Raimundo, de pé.
E estendendo-lhe a mão:
- O senhor fica autorizado, em meu nome, a rebater essa "ofensa"!
O LAR E A RELIGIÃO
Múcio Teixeira - "O Imperador visto de perto", pág. 116.
Em sua última viagem, em 1886, ao interior de São Paulo, o Imperador Pedro II visitava uma escola, quando uma menina de oito anos, a mandado da professora, começou a recitar o Credo. Em certa altura, quando a pequena dizia que Jesus fora concebido de Maria Virgem, "virgem antes do parto, durante o parto e depois do parto", o monarca interrompeu-a e, voltando-se para a educadora:
- Não acrescente nada ao Credo; esta oração é a síntese completa da nossa religião. Nem entre na questão da Conceição, que é um dogma muito recente.
E virando-se para um jornalista:
- A religião deve ser ensinada pelas próprias mães; só na falta destas é que pode ser confiada à professora.
OS PEIXES DO BRASIL
Afonso Arinos - Discurso na Academia Brasileira de Letras
De regresso de uma das suas viagens à Europa, trouxe Eduardo Prado para a sua fazenda do Brejão uma infinidade de anzóis, pesos, iscas artificiais, destinados à pesca, no rio. Ante as minhocas de borracha que os caboclos supuseram enfeite para pescoço, Eduardo explicou:
- É com isto que se pesca na Inglaterra.
- Quá, seu dotô! - fez, rindo, o caboclo mais velho.
E incrédulo:
- Os nosso peixe de cá não pega nisso, não! eles são muito velhaco! quando nas iscas de devéra eles custa, quando mais, nessa!...
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).
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