Por Ricardo Alcântara (*)
O PDT anunciou que irá indicar o deputado Heitor Férrer para a disputa pela prefeitura de Fortaleza neste ano. A pouco mais de cem dias do prazo final para a escolha de candidatos, é o primeiro a ser confirmado.
Médico, foi no serviço público que conseguiu desenvolver as condições para se dedicar à sua vocação política, construindo uma carreira até aqui exclusivamente dedicada ao exercício de mandatos parlamentares.
Heitor priva do respeito da cidade. De vida privada discreta, nunca teve seu nome relacionado a atos contrários às responsabilidades que a população lhe confiou. E sempre foi visto trabalhando. Para o que se tem por aí, já é muito.
Sua trajetória política pode ser definida por três aspectos principais de sua atuação: no que lhe é mais constante, Heitor se move com baixa identidade ideológica, independência de pensamento e foco na defesa do bem comum.
Baixa identidade ideológica porque Heitor construiu sua identificação com o interesse popular sem servir a nenhuma linha doutrinária mais específica e sem alinhamento com as razões corporativas do movimento sindical.
No fundo, Heitor é um solitário. Espírito independente, dentro do seu PDT, onde cumpre rara carreira de muitos anos, nem sempre esteve, como agora não está, alinhado com as posições defendidas pelo seu comando partidário.
O deputado não se posiciona como aliado incondicional de nenhum setor específico da sociedade – produtores, liberais ou assalariados. Sempre quis estar onde lhe parecia estar o interesse comum. Sua causa? O cidadão.
Das características mencionadas acima decorre sua força e fragilidade: o patrimônio político da boa imagem que sempre cultivou não lhe garantiu uma rede consistente de articulação. Heitor pertence a todos e a ninguém.
Seu eleitor potencial é um progressista desmobilizado, aquele cidadão que sabe o que está se passando, mas não comparece nem a reunião de condomínio. Um tipo que, apesar do perfil crítico, não pratica militâncias.
Gente de muita opinião e poucas atitudes, tão cética com a integridade dos homens públicos quanto com a sinceridade e isenção dos seus fiscais. É um tipo de perfil difuso, mas, ninguém se engane: bem fácil de encontrar por aí.
Uma adiantada articulação partidária pretende garantir ao candidato um generoso tempo de propaganda eleitoral na mídia – pouco mais de quatro minutos de programa eleitoral. Que tenha muito a dizer, é tempo suficiente.
Se o seu partido souber compartilhar com tais forças a construção da candidatura, tanto quanto elas deverão compreender as contingências conjunturais da articulação, ele ocupará espaço relevante na disputa.
Dele, hoje não se pode ainda dizer que esteja entre os favoritos – nem mesmo seus adversários foram já indicados. Mais tolo seria, no entanto, tomá-lo como figurante. Somente o será se muitos erros forem cometidos.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
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