segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Heitor decide: nem paço, nem palácio

Por Ricardo Alcântara (*)
Heitor Férrer declarou neutralidade na disputa do segundo turno apoiado em argumento de “coerência”. Mesmo compreendendo a decisão do ex-candidato com base nos termos em que ele colocou sua posição, não teria sido tão incoerente, caso indicasse alguma preferência.
Optar por quem julgasse ele “menos mal”, seria, igualmente, compatível com as regras do jogo democrático. A neutralidade só se justifica porque o deputado não conseguiu definir com força de convicção pessoal nenhum diferencial qualitativo entre as alternativas oferecidas pelo próprio eleitor.
Se assim é que ele vê, quem poderá censurá-lo? Penso mesmo que o candidato – e apostaria quase todas as fichas aí – tomou a decisão que melhor atende à expectativa da maioria de seus eleitores. Pelo perfil de sua votação, Heitor sabe que eles não voltarão às urnas com muito entusiasmo.
Se apenas um argumento pudesse indicar como mais central na decisão dos que votaram no deputado, diria que aquele quinto do eleitorado viu nele independência – e suficiente para que em seu governo houvesse prevalência do interesse comum sobre outros, de duvidosa legitimidade.
Votaram nele não necessariamente por uma reação vocacional ao poder, mas, ao contrário, por uma crença nele, no Poder Público como expressão de força e possibilidade real de promover mudanças que, embora necessárias, estariam sendo relegadas ao segundo plano pelos que hoje o ocupam.
Em outras palavras, não foi um voto de “protesto”, meramente reativo e desesperançado. Não foi um voto “contra tudo isso que está aí”, mas, ao contrário, repito, a favor de que “tudo isso que está aí” poderia, sim, ser aparelhado e exercido com maior transparência, coerência e apreço ao bem comum.
E ele, que já estava, em estatura e propósito, acima de quem manda em seu partido, se viu pequeno diante da força que em torno dele se formou. Ali, faltou engenho para gerar entusiasmo – há grande distância entre ser objeto da convergência de intenções e sujeito de uma mobilização de forças.
A campanha era menor que o candidato. E ele, menor do que as forças que suscitou. A coerência de sua trajetória o levou até ali. Para ir além, precisava de um talento de líder que ainda não construiu. Ainda assim, pela aridez de emblemas virtuosos que o ambiente político atual oferece, foi longe.
Sejamos dialéticos
Somente em parte estão certos os dirigentes do PCdoB em creditar o fracasso da candidatura do senador Inácio Arruda à prefeitura de Fortaleza ao ínfimo tempo de propaganda que conseguiu agregar. Farão uma avaliação ainda mais qualificada se constatarem que, em iguais condições, outro candidato de esquerda, Renato Roseno, foi muito mais longe.
 (*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.

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