A implosão do mito Luís Inácio da Silva
Escrito por: Jorge Serrão
In: Alerta Total (19-9-2012)
O mito Luiz Inácio Lula da Silva vive um momento terrível de desconstrução. Nunca antes na história deste país um ídolo político foi tão atacado como chefe de uma quadrilha prestes a ser condenada, com seus principais operadores já pressentindo o amargo desgosto do cárcere. O nível altíssimo de angústia e tensão, fatalmente, afeta seu humor, estado de espírito e, por consequência, a saúde – que inspira cuidados. Pior que isto só o estrago da imagem santificada por anos de marketagem.
O jogo de poder é cruel para gente como $talinácio. Nos esquemas de colonização globalitários, ao qual o Brasil é historicamente submetido, o suposto rei que perde o poder também fica, automaticamente, sem a majestade. Lula tornou-se mais um objeto descartável pela oligarquia financeira transnacional que controla os negócios mundiais – do capitalismo ou do capimunismo. Tornou-se cabra marcado para cair no ostracismo da História. A dúvida é se tal estrago será imediato ou apenas no longo prazo.
Enquanto servia diretamente como fantoche aos esquemas, globalitários foi poupado de todos os (poucos) ataques que sofreu. Agora, sem a caneta do Diário Oficial da União, é como uma fada que teve roubada a varinha de condão. A capacidade de mistificar foi radicalmente diminuída. Assim, o mítico herói tupiniquim começa a ser submetido a um processo de desconstrução da imagem que pode lhe ser fatal. Nem Getúlio Vargas tomou tanta pancada quanto Lula deve tomar.
Por ironia do destino, Lula sentiu que não é imune ao poder de destruição de um câncer. A Justiça divina o poupou. Mas, a partir de agora, o então poderoso chefão dos petistas também constata que não é mais imune ao rigor seletivo da Justiça dos homens. Como não tem mais escudo do foro privilegiado do cargo de Presidente da República - agora sendo apenas um cidadão como outro qualquer – responde por tudo em que for denunciado na justiça comum – a mesma que costuma ser muito injusta com a maioria dos reles mortais.
O momento de terror vivido por Lula tem seu ponto evidente no julgamento do mensalão – que ele fez de tudo, nos bastidores, para tentar protelar.
Agora, o recado dado por Marcos Valério – que o confirma como verdadeiro chefe dos “mensaleiros” – transforma um líder político bionicamente fabricado pelos esquemas globalitários em um mero chefete de uma quadrilha que vem assaltando o Brasil.
Alem do mensalão – e diretamente relacionado com tal escândalo que caiu na boca do povão, graças à exposição midiática do julgamento no Supremo Tribunal Federal -, Lula agora vira alvo de pequenos ataques que podem ser fatais. É o caso da “maldição dos velhinhos endividados”.
Lula é alvo direto de um processo por improbidade administrativa.
Motivo: O Ministério Público Federal o acusa de prejuízo de R$ 10 milhões aos cofres públicos, por buscar autopromoção, publicidade pessoal e favorecer o Banco BMG, ao enviar a aposentados e pensionistas do INSS uma cartinha por ele assinada com informações sobre o programa de crédito consignado do governo federal cujo se transformou em um inferno de dívidas para os idosos e seus familiares.
Uma ação de improbidade sobre o envio das cartas aos idosos tem conteúdo semelhante a um inquérito sigiloso em tramitação no Supremo Tribunal Federal. O caso foi aberto a partir da denúncia principal do mensalão.
O inquérito apura “fatos relacionados às irregularidades no convênio firmado entre o Banco BMG e o INSS/Dataprev para a operacionalização de crédito consignado a beneficiários e pensionistas”. Por mera coincidência, dirigentes do BMG aparecem como réus no processo do mensalão.
Se o caso for denunciado pelo procurador-geral da República – que até agora se omite sobre um assunto de tamanha gravidade política e econômica -, e Lula acabar condenado, terá de se aposentar politicamente. A pena fatal para ele é a perda direitos políticos por até dez anos – prevista na Lei de Improbidade Administrativa.
Para um político, tal penalidade é muito pior que vários anos de prisão (que geralmente ajudam a transformar o condenado em coitadinho, contribuindo para a construção do mito político).
Sorte que Lula – ao contrário dos velhinhos que ajudou a se endividarem - já é um aposentado de primeira linha. O chefão do PT não precisa pedir empréstimo consignado para sobreviver. Lula vive como rei graças à tríplice-aposentadoria. Recebe aposentadoria por invalidez do INSS, ganha outra aposentadoria do governo como anistiado político (por 11 dias que o amigo Romeu Tuma manteve o sindicalista com codinome “Boi” na cadeia, durante as famosas greves do ABC), além de mais uma aposentadoria a que tem direito como ex-presidente da República.
O tríplice-aposentado Lula sabe que a coisa está preta. E não é só por causa do Joaquim Barbosa – que ele nomeou para o STF apenas para fazer média com a “comunidade negra”. O jogo político empretejou para Lula, simplesmente, porque é fatal para quem não dita mais as regras do poder. O Cabo da faxina de um quartel tem mais poder que um ex-presidente da República.
Lula ainda posa de herói entre os ignorantes beneficiados por seus clientelistas esquemas de bolsas de compensação de renda. Ou entre aqueles que foram levados a acreditar no milagre do operário que chegou ao topo da fábrica Brasil. Para o segmento esclarecido de brasileiros, Lula é mais nada. Sobrevive da auto-idolatria.
Se perdê-la, já era. E os novos ataques que sofrerá vão se intensificar. O vácuo de poder está se abrindo. Se Lula for obrigado, por qualquer motivo, a sair de cena, a autofagia do PT vai se tornar evidente. A disputa interna pelo poder no partido – para gerir a aparelhagem pública de que a petralhada se apossou – tende a provocar grandes baixas.
Quem assumirá a hegemonia numa fase Pós-Lula?
Por tanto desgaste à vista, só uma providencial morte súbita poderá preservar o que ainda resta da imagem política de Lula. Os diamantes são eternos. Os políticos, não! Pelo menos o grande líder ainda tem uma esperança. Como tem acontecido até agora, nada deve colar nele.
Até quando isso vai durar talvez só Deus saiba... O vácuo de poder está se abrindo e vai se concretizar...
Talvez por isso Lula até alimente uma certeza meio fantasiosa e bem típica de um mito providencialmente fabricado pela maquiavelagem de um pseudo-gênio Golbery do Couto e Silva. No juízo final, Lula deve acreditar que vai mesmo para o Céu... Pode ser... Afinal, não dizem que o Diabo odeia concorrentes de peso em seus domínios infernais?
Nota: Jorge Serrão é jornalista, radialista, publicitário e professor. Editor-chefe do blog e podcast Alerta Total: http://www.alertatotal.net/. Especialista em Política, Economia, Administração Pública e Assuntos Estratégicos.
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