quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Sem grandes queixas e nenhuma saudade

Por Ricardo Alcântara (*)
O pecado original do ciclo de Luizianne Lins como prefeita não foi tanto sua inaptidão para a função executiva, mas o narcisismo que a impediu de reconhecer a dimensão do fato e compensá-lo na medida necessária, cercando-se de melhores talentos gestores.
A sequela bolchevique (distúrbio tratável, mas não curável) levou a prefeita a ungir a lealdade pessoal como razão superior aos critérios de competência. Sabia pouco e, com algumas exceções que confirmam a regra, cercou-se de quem sabia menos ainda.
Fatos falam por si: não será demais lembrar que, por não ter agregado um corpo técnico consistente, uma mesma pessoa chegou a acumular por meses seguidos o comando de duas grandes secretarias de desempenho vital para a população: Educação e Saúde.
Como resultado objetivo, faltou planejamento. Sintomático, foram necessários sete anos de experiência como prefeita para perceber a elementar necessidade de recriar um instituto dedicado a este fim: pensar o conjunto de ações de forma sistêmica.
Em defesa própria, quanto mais a prefeita insistia num relato fragmentário de suas obras, sem expor visão integrada da cidade e de suas potencialidades, mais revelava os sintomas do equívoco original, denunciado pela estrutura do seu próprio discurso.
Por voluntarismo sincero, se fez coisas boas. Exemplos? Conceber a Vila do Mar com acolhimento à população local e impedir o estupro que seria a instalação de um estaleiro na área urbana foram medidas às quais a cidade lhe deverá ser sempre agradecida.
No decorrer do governo, para cada boa notícia, como a conquista de preço estável na tarifa dos transportes, correspondia outra, de teor negativo e às vezes maior proporção, como os baixos índices de desempenho nas unidades de ensino fundamental.
Se houve maior zelo com o meio ambiente e comunidades de áreas de risco, e à Cultura foi oferecida uma estrutura institucional e equipamentos inovadores, resta, ainda assim, a sensação de que ficamos aquém das oportunidades oferecidas durante esses oito anos.
Por fim, de alguém que, como ela, sempre cultivou uma prosopopeia semirevolucionária, esperava-se algum avanço político, frustrado pelo pragmatismo com que se rendeu ao loteamento de cargos entre aliados que lhe deram sustentação legislativa.
Símbolo mater de continuidade da prática que antes condenara de modo implacável foi a boa – “ótima!”, ele diria – relação do vereador Carlos Mesquita com o gabinete, entre outros clientes, exigentes, mas que pouco se queixaram do tratamento a eles oferecido.
Pelo que foi dito, a cidade não sentirá saudade de Luizianne Lins. Tampouco se prolongarão as queixas. Ao contrário do que fazia ela com seu antecessor, o futuro prefeito não terá motivos para culpá-la. Seu legado não é exuberante, nem desastroso.
A festa continua
Quanta hipocrisia! Combatido por sete anos, o show piromusical da praia do Iracema, promovido pela prefeita que se despede foi, finalmente, reivindicado como um patrimônio do calendário cultural da cidade. Quer dizer que agora é bom? Sempre foi.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
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