The Washington
Post (artigo de 13.03.2013)
Bergoglio, 76 anos, o primeiro
Papa Jesuíta passou quase sua carreira inteira em casa, na Argentina,
supervisionando igrejas e padres de “sandálias de couro”, reportou a Associated
Press. Foi o segundo mais votado na eleição de Bento 16 em 2005 e se
especializou no trabalho pastoral que é uma habilidade essencial para o novo
papa.
“É um movimento de gênio”,
disse Marco Politi, um biógrafo papal e veterano observador Vaticanista, a
respeito da escolha de Bergoglio. “É um não-italiano, um não-europeu, e não é
homem do governo romano. É uma abertura para o Terceiro Mundo, um moderado. A
escolha do nome Francisco significa exatamente um novo começo”
Bergoglio gostaria muito de
encorajar os 400.000 padres da igreja a sair às ruas em busca de mais almas,
disse Rubin em uma entrevista na Associated Press. Ele também se sente mais
confortável passando despercebido e o seu estilo pessoal é a antítese do
esplendor do Vaticano. “É uma coisa muito curiosa: quando os bispos se reúnem,
ele sempre procura se sentar nas filas de trás. Esse senso de humildade é muito
bem visto em Roma, disse Rubin.
Ele é conhecido por modernizar
a Igreja Argentina que está entre as mais conservadoras da América Latina.
Sendo o mais elevado prelado argentino, ele nunca morou na mansão especial da
igreja, preferindo uma simples cama em um quarto no centro da cidade protegido
por um pequeno aquecedor nos frios finais de semana. Durante anos, ele usou
transporte público em volta da cidade, e cozinhou sua própria comida.
Bergoglio tem reduzido um pouco
seu ritmo com a idade e está sentindo os efeitos da remoção de um pulmão devido
a uma infecção quando era adolescente – dois golpes contra ele em um tempo em
que os observadores vaticanos dizem que o novo papa deve ser relativamente
jovem e forte. “Mas ele caminha para ser muito influente no congresso de
Cardeais, um dos mais ouvidos por todos”, disse Rubin.
Bergoglio não pôde evitar que a
Argentina se tornasse o primeiro país da América Latina a legalizar o casamento
gay, ou impedir que sua presidente Cristina promovesse a livre contracepção e a
inseminação artificial. Quando ele arguiu que a adoção de ciranças por casais
gays discriminava as crianças, Cristina comparou seu tom aos “tempos medievais
e à Inquisição”.
Essa espécie de demonização é
injusta, diz Rubin, que escreveu a biografia autorizada de Bergoglio, “ O
Jesuita”. “É ele um progressista? – um teólogo liberal, por acaso? Não. Ele não
é um sacerdote terceiro mundista. Ele critica o Fundo Monetário Internacional e
o neoliberalismo? Sim. Gastou ele uma grande parcela do seu tempo nas favelas? Sim”, disse Rubin.
Críticos também o acusam de
falhar em levantar-se publicamente contra a ditadura militar do seu país de 1976 a 1983, quando vítimas
e seus parentes denunciaram em primeira mão relatos de torturas, mortes e
sequestros aos padres que supervisionava como líder da Ordem Jesuíta na
Argentina. Como outros intelectuais jesuítas, Bergóglio preferiu focar no
trabalho social. Os católicos ainda fazem burburinho sobre seu discurso ano
passado, quando acusou colegas de igreja de hipocrisia por esquecerem que Jesus
Cristo deu banho em leprosos e almoçou com prostitutas.
“Em nossa região eclesiástica
há sacerdotes que não batizam as crianças de mães solteiras por não terem sido
concebidas na santidade do casamento”, disse Bergoglio a seus padres. “Esses
são os hipócritas de hoje em
dia. São os que burocratizam a Igreja. São os que separam o
povo de Deus da salvação. E essa pobre moça, melhor do que devolver a criança,
teve a coragem de carregá-la pelo mundo, de paróquia em paróquia, até ser
batizada!”.
Bergoglio comparou esse
conceito de Catolicismo aos Fariseus do tempo de Cristo: pessoas que se
congratulavam ou elogiavam a si próprias, enquanto condenavam outras. “Jesus
nos ensinou outro caminho: Saiam. Saiam e compartilhem seu testemunho, saiam e
interajam com seus irmãos, saiam e repartam, saiam e perguntem. Transformem o
mundo em corpo tão bem quanto em espírito”, disse Bergoglio.
Tradução literal
de Afrânio Bizarria – ex-aluno jesuíta, em 13.03.2013
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