Os cidadãos cearenses, e o fortalezense, em
particular, no período pré-eleitoral, foram bombardeados por inserções
publicitárias, em diferentes mídias, dando conta das realizações dos
respectivos governos, estadual e municipal, no campo da Saúde.
O governo do Ceará arrolava, entre as suas
maiores obras, a construção de três grandes hospitais regionais no interior, edificações
que se completavam com uma rede de hospitais-pólo, policlínicas, unidades de
pronto atendimento (UPA) e centros de especialidades odontológicas (CEO).
Pior quadro era o da Fortaleza Bela, cuja
propaganda estava quase inteiramente focada na suposta enorme e dantesca obra,
o Hospital da Mulher de Fortaleza, como se fora um Taj Mahal, de um viúvo,
sofrido e apaixonado. Ainda sem nome oficial, esse rótulo era anunciado, tal
qual uma epopeia homérica, como se fosse um sambinha de uma nota só, a propalar
a redenção feminista da cidade.
Entre o lançamento da proposta, na campanha eleitoral
de 2004, e sua recente pseudo-inauguração, revestida de simbolismo político,
esse hospital já consumiu oito anos, e, por certo, há de requerer mais uns dois
anos, para se pôr em funcionamento adequado, igualando ao tempo exigido dos
gregos para destruírem Troia.
Apesar do largo tempo percorrido, a
prefeitura da capital não cuidou de preparar os recursos humanos necessários ao
colossal equipamento, optando por remover quadros de suas já combalidas e
sucateadas estruturas hospitalares, para preencher os lugares do novo hospital,
configurando uma ação temerária.
Ademais, ao optar pelo formato hospitalar, a
fim de prestar um serviço complexo, cuja praxe é ser ofertado em ambulatório, a
prefeita Lins deixará à posteridade sucessora um legado de cara manutenção, que
sorverá importantes somas, desfalcando os recursos que seriam melhor aplicados
na sua rede hospitalar preexistente.
Trata-se o empreendimento de uma malfadada
herança reservada ao atual alcaide, cabendo a ele concluir a obra e adequar o
seu funcionamento, dando o direcionamento mais apropriado, como um hospital
geral e maternidade, desfazendo a utópica hipertrofia de sua exclusividade às
questões da saúde reprodutiva feminina.
Prof. Marcelo
Gurgel Carlos da Silva
Médico-sanitarista e Economista da Saúde
* Publicado In: Jornal do SIMEC. Fortaleza, fevereiro de
2013. p.8. (Órgão do Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará).
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