terça-feira, 2 de abril de 2013

Segurança pública: o fracasso de um sucesso



Por Ricardo Alcântara (*)
A ex-prefeita Luizianne Lins gostaria que isto nunca mais fosse mencionado, mas é fato: ela deve grande parte de sua reeleição ao programa de segurança criado à época pelo seu então aliado, governador Cid Gomes: o Ronda do Quarteirão.
Estávamos em 2008. Consultadas pelas pesquisas de opinião, as pessoas diziam: “Agora, eu tenho o telefone da viatura que passa todo dia na porta da minha casa”. O ronda era uma ideia simples, logo muito bem compreendida pela população.
Naquele ano, Fortaleza estava dividida: enquanto uma terça parte do eleitorado aprovava a gestão de Luizianne, parcelas iguais se mostravam contrária e neutra. E a prefeita tinha um adversário de peso: Moroni Torgan e suas homilías bélicas.
O Ronda do Quarteirão ainda não apresentava resultados, mas já transmitia tal sensação de segurança que, em poucos meses, conseguira retirar o delicado tema Segurança da pauta eleitoral, lacrando o mais robusto paiol da oposição.
Mas o tempo, este implacável senhor da razão, logo revelou o relativo alcance da iniciativa e o Ronda passou a frequentar o noticiário e ser percebido apenas por suas distorções: o alto custo, a má qualificação dos quadros e os abusos de poder.
Com a nulidade do esforço, a população logo percebeu: as máquinas possantes – antes exclusivas ao consumo dos abonados – não desfilavam em suas ruelas como uma dádiva graciosa, mas pagas, em vão, com o amargo sacrifício de seus tributos.
Quatro anos depois, o governo lançou um candidato a prefeito em oposição à ex-aliada e o elege com discurso onde o programa Ronda do Quarteirão esteve longe de representar um emblema de êxito: do vinho se fizera o vinagre.
Vinagre já antes sorvido a contragosto quando a cidade toda – sem exceção dos shoppings, templos de segurança – baixou suas portas no meio da tarde durante uma greve policial que abalou a confiança da sociedade no comando do governo.
Desde então, nenhuma medida de impacto foi tomada. Enquanto Alice dormia, o governo que mais investira na área era crivado com recordes negativos, laureado com o fracasso de uma incômoda liderança nacional em número de vítimas fatais.
Pois agora Cid Gomes veio enfim a público e admitiu sua cota de responsabilidade, mas sem, contudo, dar nenhum indicativo de que disponha de alternativas a oferecer diante dos complexos desafios que cercam este problema. O governo está perdido.

Post scriptum: O circo pegou fogo? Chama o mágico!
O artigo estava concluído, quando nos chegou o rumor de que Moroni Torgan fora convidado para assumir a pasta de Segurança. Má notícia. Cercado de problemas e não tendo muito a oferecer, o governo optaria por mais uma pirotecnia midiática.
Sem um vigoroso plano de ação – abordagem eficaz dos espaços onde a estatística do crime explode – a popularidade de Moroni teria o efeito de um traque: um barulhinho bom cuja fumacinha, pouca, já prenunciaria uma enorme decepção.
Com o “agora vai” de Moroni na Segurança, melhoraria a predisposição coletiva e o governo ganharia tempo, o que seria bom apenas para seus interesses eleitorais porque não é de esperança que a cidade de fato precisa. A cidade precisa de paz!
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
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