Por Ricardo
Alcântara (*)
A
ex-prefeita Luizianne Lins gostaria que isto nunca mais fosse mencionado, mas é
fato: ela deve grande parte de sua reeleição ao programa de segurança criado à
época pelo seu então aliado, governador Cid Gomes: o Ronda do Quarteirão.
Estávamos
em 2008. Consultadas pelas pesquisas de opinião, as pessoas diziam: “Agora, eu
tenho o telefone da viatura que passa todo dia na porta da minha casa”. O ronda
era uma ideia simples, logo muito bem compreendida pela população.
Naquele
ano, Fortaleza estava dividida: enquanto uma terça parte do eleitorado aprovava
a gestão de Luizianne, parcelas iguais se mostravam contrária e neutra. E a
prefeita tinha um adversário de peso: Moroni Torgan e suas homilías bélicas.
O
Ronda do Quarteirão ainda não apresentava resultados, mas já transmitia tal
sensação de segurança que, em poucos meses, conseguira retirar o delicado tema
Segurança da pauta eleitoral, lacrando o mais robusto paiol da oposição.
Mas
o tempo, este implacável senhor da razão, logo revelou o relativo alcance da
iniciativa e o Ronda passou a frequentar o noticiário e ser percebido apenas
por suas distorções: o alto custo, a má qualificação dos quadros e os abusos de
poder.
Com
a nulidade do esforço, a população logo percebeu: as máquinas possantes – antes
exclusivas ao consumo dos abonados – não desfilavam em suas ruelas como uma
dádiva graciosa, mas pagas, em vão, com o amargo sacrifício de seus tributos.
Quatro
anos depois, o governo lançou um candidato a prefeito em oposição à ex-aliada e
o elege com discurso onde o programa Ronda do Quarteirão esteve longe de
representar um emblema de êxito: do vinho se fizera o vinagre.
Vinagre
já antes sorvido a contragosto quando a cidade toda – sem exceção dos shoppings,
templos de segurança – baixou suas portas no meio da tarde durante uma greve
policial que abalou a confiança da sociedade no comando do governo.
Desde
então, nenhuma medida de impacto foi tomada. Enquanto Alice dormia, o governo
que mais investira na área era crivado com recordes negativos, laureado com o
fracasso de uma incômoda liderança nacional em número de vítimas fatais.
Pois
agora Cid Gomes veio enfim a público e admitiu sua cota de responsabilidade,
mas sem, contudo, dar nenhum indicativo de que disponha de alternativas a
oferecer diante dos complexos desafios que cercam este problema. O governo está
perdido.
Post
scriptum: O circo pegou fogo? Chama o mágico!
O
artigo estava concluído, quando nos chegou o rumor de que Moroni Torgan fora
convidado para assumir a pasta de Segurança. Má notícia. Cercado de problemas e
não tendo muito a oferecer, o governo optaria por mais uma pirotecnia
midiática.
Sem
um vigoroso plano de ação – abordagem eficaz dos espaços onde a estatística do
crime explode – a popularidade de Moroni teria o efeito de um traque: um
barulhinho bom cuja fumacinha, pouca, já prenunciaria uma enorme decepção.
Com
o “agora vai” de Moroni na Segurança, melhoraria a predisposição coletiva e o
governo ganharia tempo, o que seria bom apenas para seus interesses eleitorais
porque não é de esperança que a cidade de fato precisa. A cidade precisa de
paz!
(*) Jornalista e
escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre
é cão
sem dono. Se gostou, passe adiante.
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