domingo, 28 de abril de 2013

SER OU NÃO SER SOGRA: eis a questão



Por Elsie Studart Gurgel de Oliveira
Até que enfim, instituíram o DIA DA SOGRA – 28 de abril, sem nenhuma razão aparente, haja vista comemorar-se, na data, o onomástico de São Pedro Chanel, nascido em Lyon, na França, em 1841. Também já não era sem tempo essa criação, tamanha a polêmica que se gera, por conta dessa “figuraça” que, se para alguns poucos, é uma espécie de segunda mãe, para a maioria não passa de uma versão piorada da madrasta da Branca de Neve.
Tudo bem que sogra, ninguém merece, mas o certo é que todos querem ter uma. Afinal, se não houvesse a sogra, também não haveria o senhor marido, ou a senhora esposa. Daí essa personagem, que quase sempre interpreta o papel de vilã, no palco da vida, ser um mal, mais do que necessário. Nos bons tempos do rádio, na década de 50, quando ainda nem se falava em marketing empresarial, havia uma propaganda que, mesmo em sentido inverso, aplica-se à questão aqui discutida: sogra é que nem fogão a gás butano. “Não tem igual”. E se alguém, ainda não a conhece, é só perguntar a quem tem uma. Realmente, a comparação procede.
E por aí vai o besteirol, falando da mãe “idolatrada”, de nossos esposos/e ou esposas. “Feliz foi Adão, que nunca teve sogra”. Mas será que a Eva teria comido a maçã, antes do almoço, se a potencial futura sogra estivesse ali por perto, no Jardim do Eden? – Sogra que se preza, tem olhos de lince, vê cabelo em casca de ovo e até chifre em cabeça de cavalo. Portanto, todo genro e toda nora que se cuidem.
Sogra não faz parte da polícia feminina, mas à conta dessa sua visão tridimensional, bem que poderia ser contratada pelo Governador Cid Gomes, para fazer a ronda do quarteirão. Ela pega no pé, melhor do que qualquer mulher enciumada; fiscaliza quem é e quem não é do ramo; quem está gordo e quem está magro, só para dar palpites sobre dieta e nutrição, logo ela que arrebenta a balança toda vez que vai se pesar. E quando se dana a meter o “bedelho” na educação dos netos, aí é que a coisa esquenta. Posa de dona da verdade, sabe tudo sobre pedagogia, psicologia e o escambau. Conhece Marden, Piaget, Montessori e até a Super Nanny, mas jamais lembra que aqueles netinhos e netinhas, tão bonitos e tão danados, são cópias fiéis dos filhinhos e filhinhas que um dia ela pariu.
Mas, “só pra contrariar”, tem que botar defeito é no genro e/ou na nora que não sabem “impor limites”. Ah! Ter sogra é mesmo o barato que sai caro. Se fosse preciso comprar uma, com certeza o produto ia mofar na prateleira. Mas, como até “araruta tem seu dia de mingau”, sogra, às vezes, também serve para alguma coisa: fica com as crianças, quando os pais vão trabalhar, quando viajam, ou quando querem esticar a noite, nos bares da vida. Se preciso, dá remédio direitinho, na quantidade certa e na hora exata, quando os rebentos adoecem, estando no seu poder. Por vezes, ensina os deveres da escola, nem sempre, é verdade, como manda a professora.
Nas necessidades, supre o caixa doméstico, no melhor estilo mother-in-law, não para tirar o nome dos “afortunados” genro e nora, do SERASA, mas para preservar a honra familiar, abalada por um desvão qualquer de “conduta monetária”. E não é que essa “rainha da cocada preta”, a “última cerveja gelada da face da terra”, consegue até esboçar um sorriso amarelo, para a infeliz da mulher do filhinho, ou para o cafajeste do marido da filhinha, que depois de uma “briga de foice”, vêm fazer as pazes, no “motel familiar”? – Pobre sogra essa, que engole sapos, e lagartos, mas que sabe também botar fogo pelas narinas, que nem um dragão endemoninhado, quando se sente pisada nos seus calos.
Que ninguém pense em colocá-la em um andor, porque certamente correria ele o risco de desabar, no meio da procissão. Mas, também, não precisa ser ela queimada, feito Judas, no sábado de Aleluia, ainda que, em muitos casos, botar lenha na fogueira e sentir cheiro de churrasco de gente, pareça pouco. Quem deu o nome de “língua de sogra” àquele brinquedo que estica ao ser soprado, fazendo a alegria da criançada, com certeza só quis mesmo foi fazer uma gozação com o tamanho da língua ferina, viperina, e o mais que seja, dessa “inditosa” figura. Não é diferente o caso daquela musiquinha brega, de carnaval: “tiraram o coração da minha sogra, botaram o coração de um jacaré. Sabe o que aconteceu? – a velha se mandou e o jacaré morreu”.
Pobre sogra nossa, que está sempre na casa dos filhos, azarando, azedando o relacionamento conjugal! Mas será que dá mesmo para acreditar que sogra é esse bicho-papão, de que tanto se fala? – Se você leitor(a), tiver uma jóia desse quilate, muito cuidado com ela. Nunca lhe dê as costas, para não ser vítima de agressão. Se sentar perto dela, bata com os dedos três vezes na madeira. E se não houver outra alternativa, apele para o latim, e diga do fundo do coração: vade retro, satanás! Com tudo isso, por que então criar o Dia da Sogra? – Já não bastam os 365 dias de terror causado pela megera? – E olhe que se ela “bater as botas”, não vale derramar “lágrimas de crocodilo”.
Sogra é igual a político: a gente espera a missa de 7º Dia, para acreditar que morreu e não ressuscitou. Em tempo: procurou-se fazer uma brincadeira, em cima do tema “a sogra”, até para desanuviar a pauta do caderno especial, recheada de elogios a essa “brilhante” figura, na hierarquia familiar. Mas é sempre bom ficar atento ou atenta para a sabedoria popular: “nem tudo que reluz é ouro, nem tudo que balança cai. Pode ser que “a sogra” seja uma santa, mas também pode ser que não seja.
Em tempo: procurou-se fazer uma brincadeira, em cima do tema “a sogra”, até para desanuviar a pauta do caderno especial, recheada de elogios a essa “brilhante” figura, na hierarquia familiar. Mas é sempre bom ficar atento ou atenta para a sabedoria popular: “nem tudo que reluz é ouro, nem tudo que balança cai. Pode ser que “a sogra” seja uma santa, mas também pode ser que não seja.
Nota do Blog: Este texto foi escrito, como “provocação”, para a abertura do caderno especial, por mim organizado, dedicado ao Dia da Sogra, do Jornal do Leitor, de O Povo, que circulou em 29 de abril de 2007. Ele, contudo, não chegou a ser publicado nesse caderno, porque havia exigência de ser assinado por um não-jornalista, e a autora, Elsie Studart, já participava da empreitada com um outro artigo, tecendo rasgados e sinceros elogios à sua falecida sogra, a Sra. Angelina Goes.
O presente ensaio foi inserido nas páginas 74 a 78 do livro “SACOLETRAS: um sacolão de consoantes, vogais, pontos, vírgulas e ...”, de autoria de Elsie Studart, cuja edição foi organizada por mim.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva

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