Por Elsie Studart Gurgel de Oliveira
Até que enfim, instituíram o DIA DA SOGRA –
28 de abril, sem nenhuma razão aparente, haja vista comemorar-se, na data, o
onomástico de São Pedro Chanel, nascido em Lyon, na França, em 1841. Também já
não era sem tempo essa criação, tamanha a polêmica que se gera, por conta dessa
“figuraça” que, se para alguns poucos, é uma espécie de segunda mãe, para a
maioria não passa de uma versão piorada da madrasta da Branca de Neve.
Tudo bem que sogra, ninguém
merece, mas o certo é que todos querem ter uma. Afinal, se não houvesse a
sogra, também não haveria o senhor marido, ou a senhora esposa. Daí essa
personagem, que quase sempre interpreta o papel de vilã, no palco da vida, ser
um mal, mais do que necessário. Nos bons tempos do rádio, na década de 50,
quando ainda nem se falava em marketing
empresarial, havia uma propaganda que, mesmo em sentido inverso, aplica-se à
questão aqui discutida: sogra é que nem fogão a gás butano. “Não tem igual”. E
se alguém, ainda não a conhece, é só perguntar a quem tem uma. Realmente, a
comparação procede.
E por aí vai o besteirol,
falando da mãe “idolatrada”, de nossos esposos/e ou esposas. “Feliz foi Adão,
que nunca teve sogra”. Mas será que a Eva teria comido a maçã, antes do almoço,
se a potencial futura sogra estivesse ali por perto, no Jardim do Eden? – Sogra
que se preza, tem olhos de lince, vê cabelo em casca de ovo e até chifre em
cabeça de cavalo. Portanto, todo genro e toda nora que se cuidem.
Sogra não faz parte da polícia
feminina, mas à conta dessa sua visão tridimensional, bem que poderia ser
contratada pelo Governador Cid Gomes, para fazer a ronda do quarteirão. Ela
pega no pé, melhor do que qualquer mulher enciumada; fiscaliza quem é e quem
não é do ramo; quem está gordo e quem está magro, só para dar palpites sobre
dieta e nutrição, logo ela que arrebenta a balança toda vez que vai se pesar. E
quando se dana a meter o “bedelho” na educação dos netos, aí é que a coisa
esquenta. Posa de dona da verdade, sabe tudo sobre pedagogia, psicologia e o
escambau. Conhece Marden, Piaget, Montessori e até a Super Nanny, mas jamais
lembra que aqueles netinhos e netinhas, tão bonitos e tão danados, são cópias
fiéis dos filhinhos e filhinhas que um dia ela pariu.
Mas, “só pra contrariar”, tem
que botar defeito é no genro e/ou na nora que não sabem “impor limites”. Ah!
Ter sogra é mesmo o barato que sai caro. Se fosse preciso comprar uma, com
certeza o produto ia mofar na prateleira. Mas, como até “araruta tem seu dia de
mingau”, sogra, às vezes, também serve para alguma coisa: fica com as crianças,
quando os pais vão trabalhar, quando viajam, ou quando querem esticar a noite,
nos bares da vida. Se preciso, dá remédio direitinho, na quantidade certa e na
hora exata, quando os rebentos adoecem, estando no seu poder. Por vezes, ensina
os deveres da escola, nem sempre, é verdade, como manda a professora.
Nas necessidades, supre o caixa
doméstico, no melhor estilo mother-in-law,
não para tirar o nome dos “afortunados” genro e nora, do SERASA, mas para
preservar a honra familiar, abalada por um desvão qualquer de “conduta
monetária”. E não é que essa “rainha da cocada preta”, a “última cerveja gelada
da face da terra”, consegue até esboçar um sorriso amarelo, para a infeliz da
mulher do filhinho, ou para o cafajeste do marido da filhinha, que depois de
uma “briga de foice”, vêm fazer as pazes, no “motel familiar”? – Pobre sogra
essa, que engole sapos, e lagartos, mas que sabe também botar fogo pelas
narinas, que nem um dragão endemoninhado, quando se sente pisada nos seus
calos.
Que ninguém pense em colocá-la
em um andor, porque certamente correria ele o risco de desabar, no meio da
procissão. Mas, também, não precisa ser ela queimada, feito Judas, no sábado de
Aleluia, ainda que, em muitos casos, botar lenha na fogueira e sentir cheiro de
churrasco de gente, pareça pouco. Quem deu o nome de “língua de sogra” àquele
brinquedo que estica ao ser soprado, fazendo a alegria da criançada, com
certeza só quis mesmo foi fazer uma gozação com o tamanho da língua ferina,
viperina, e o mais que seja, dessa “inditosa” figura. Não é diferente o caso
daquela musiquinha brega, de carnaval: “tiraram o coração da minha sogra,
botaram o coração de um jacaré. Sabe o que aconteceu? – a velha se mandou e o
jacaré morreu”.
Pobre sogra nossa, que está
sempre na casa dos filhos, azarando, azedando o relacionamento conjugal! Mas
será que dá mesmo para acreditar que sogra é esse bicho-papão, de que tanto se
fala? – Se você leitor(a), tiver uma jóia desse quilate, muito cuidado com ela.
Nunca lhe dê as costas, para não ser vítima de agressão. Se sentar perto dela,
bata com os dedos três vezes na madeira. E se não houver outra alternativa,
apele para o latim, e diga do fundo do coração: vade retro, satanás! Com tudo isso, por que então criar o Dia da
Sogra? – Já não bastam os 365 dias de terror causado pela megera? – E olhe que
se ela “bater as botas”, não vale derramar “lágrimas de crocodilo”.
Sogra é igual a político: a
gente espera a missa de 7º Dia, para acreditar que morreu e não ressuscitou. Em
tempo: procurou-se fazer uma brincadeira, em cima do tema “a sogra”, até para
desanuviar a pauta do caderno especial, recheada de elogios a essa “brilhante”
figura, na hierarquia familiar. Mas é sempre bom ficar atento ou atenta para a
sabedoria popular: “nem tudo que reluz é ouro, nem tudo que balança cai. Pode
ser que “a sogra” seja uma santa, mas também pode ser que não seja.
Em tempo:
procurou-se fazer uma brincadeira, em cima do tema “a sogra”, até para
desanuviar a pauta do caderno especial, recheada de elogios a essa “brilhante”
figura, na hierarquia familiar. Mas é sempre bom ficar atento ou atenta para a
sabedoria popular: “nem tudo que reluz é ouro, nem tudo que balança cai. Pode
ser que “a sogra” seja uma santa, mas também pode ser que não seja.
Nota do Blog: Este texto foi escrito, como “provocação”, para a
abertura do caderno especial, por mim organizado, dedicado ao Dia da Sogra, do
Jornal do Leitor, de O Povo, que circulou em 29 de abril de 2007. Ele, contudo,
não chegou a ser publicado nesse caderno, porque havia exigência de ser
assinado por um não-jornalista, e a autora, Elsie Studart, já participava da
empreitada com um outro artigo, tecendo rasgados e sinceros elogios à sua
falecida sogra, a Sra. Angelina Goes.
O
presente ensaio foi inserido nas páginas 74 a 78 do livro “SACOLETRAS: um sacolão de
consoantes, vogais, pontos, vírgulas e ...”, de autoria de Elsie Studart, cuja
edição foi organizada por mim.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
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